Olá, tem alguém aí?
A bola da vez (literalmente uma bola) é
uma das luas de Júpiter, Europa, que há décadas intriga astrônomos, cientistas
e astrobiólogos, pelas conjecturas de que sob sua crosta
gelada haveria água líquida em extensões oceânicas. Suspeitas confirmadas, o
mundo científico vive um frissonatrás de mais informações.
Nesta segunda (26), a NASA deverá divulgar
suas observações sobre uma "atividade surpreendente" naquele astro. O
que poderia ser? É prematuro fazer qualquer tipo de afirmação porque tudo se
move no terreno escorregadiço da especulação. Até aí, tudo bem, ruim é quando o
assunto descamba para fantasias e delírios, que irrompem com muita frequência
entre os apressados e excitadinhos leigos. Por que digo isso? Porque o senso
comum ingenuamente associa vida extraterrestre com vida extraterrestre inteligente, um erro
crasso. E estou falando também dos que, em notícias dessa natureza,
defendem que os alienígenas estão mais perto do que supomos, coisas do tipo
"o contato está próximo". Aí já não é ingenuidade, é ignorância
mesmo.
A provável presença desse oceano subsuperficial não
implica necessariamente existência de vida, até porque não se sabe ainda
qual a composição destas águas. As expectativas mais otimistas projetam uma
missão exploratória mais detalhada para o decorrer da próxima década, o que
considero difícil. Entendo que serão necessários muitos anos para que surjam
dados seguros e confiáveis. De qualquer modo, é um fato muito significativo
para a ciência, e só para ela.
Tenho falado muito disso aqui e nos
livros, e volto a fazê-lo. A Ciência está sempre revendo e atualizando seus
achados até que, pela extensão das pesquisas, sejam definitivamente
consolidados como verdades científicas. As informações atuais dão conta de que
num raio de 200 anos-luz não há qualquer sinal de vida - essa que
conhecemos, mas nada impede que uma outra forma possa vingar. O
problema está em descobrir que tipo de vida seria essa, uma tarefa dificílima,
arriscaria dizer, impossível. Nos mares interiores de Europa pode haver vida
sim, provavelmente ainda em estágio de microrganismos unicelulares,
extremófilos¹, estromatólitos² e outros. E...? A rigor, nada de novo sob o sol.
Em 2010 houve a descoberta de uma bactéria
batizado GFAJ-1 que,
para sobreviver, precisa absorver arsênio, elemento altamente letal. O
microrganismo foi localizado em um lago da Califórnia hipersalino e com elevada
concentração daquele elemento. O fato sinaliza a possibilidade de que a vida no
cosmo possa ter se reproduzido, mas ainda carece de comprovação. Ela pode estar
a caminho. Talvez o que surpreenda mesmo seja não haver nada de revelador nos
mares europeanos.
¹ microrganismo que sobrevive em ambientes inóspitos e condições totalmente adversas.
² estrutura fóssil formada pela sedimentação em camadas de cianobactérias.
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