Como anunciei no post anterior, concluo agora a discussão sobre crença, aumentando um pouco a temperatura. Se você quiser pensar a respeito com serenidade e depois debater, com bons e sólidos argumentos, estarei pronto. A ilustração mostra o tipo de crença que estou falando e, embora incompleta - o pacote é bem maior - é suficiente para introduzir o assunto. O resto do entendimento fica por sua conta.
Sim, refiro-me às superstições, rezas, lendas, videntes, oráculos, ocultismo, fantasmas, encantamentos, entidades, mestres, seitas, curandeirismo, paranormais, mistérios, anjos, alienígenas... um complexo sinérgico de crenças à disposição do cliente. Um autêntico festival do imaginário transcendente, resquícios do 'pensamento mágico' praticado pelos antigos, um coquetel maliciosamente embriagador de utopias, ilusões e fantasia,s do qual se nutrem e no qual repousam docilmente os espíritos notadamente imaturos.
Estou falando daquela transcendência cosmética, artifícios ou "penduricalhos" que o homem carrega no bolso e na alma e a eles recorre sempre que necessitado. E ele está sempre necessitado. É uma conduta consagrada em nome da sua fraqueza, covardia, insegurança e outros débitos, posto que a crença é orgânica, social, psicológica e cultural. Nenhuma dúvida quanto a isso, é dado de realidade. As muletas metafísicas servem a essa alma claudicante, em desequilíbrio, que não se sustenta por si só. Ela precisa destes expedientes porque não dá conta de suas dores, sua fragilidade e sua vulnerabilidade.
O mundo real é duro, implacável, não permite conversa fiada, subterfúgios, tolices, artimanhas, fugas, falsas transcendências. Ele já tem a sua, mais elegante, eloquente e majestosa, e é a ela e somente a ela que podemos nos curvar. A solução fabricada pelo homem é de uma pobreza de causar pena, falaciosa, apequenadora dele próprio, e nem se dá conta disso. Não se dá conta porque não vive sem dela.
Nietzsche lacera mais a ferida quando denuncia que a invenção de um ideal é a mentira maior, a maldição que oprime a realidade. O caldo que se extrai dos seus escritos e de Durand, Bauman, Fromm e tantos outros revela que o medo instalado, absorvido, fortalecido, auto-alimentado e perpetuado no cerne do espírito acaba provocando um efeito colateral de busca de heróis salvadores e protetores. Quer mensagem mais direta? Se quiser, tenho uma dúzia delas. A crença, concorde-se ou não, é obstrutiva, deletéria e contraceptiva para o desenvolvimento do intelecto.
Essa busca pode ser aplicada também a outro ponto muito delicado, objeto de intensa fé e debates vulcânicos: vida após a morte, reencarnação, mundo espiritual, o 'além'. É um outro viés nesse embate entre a finitude humana, a atemporalidade da vida e a solidão cósmica, do qual falaremos brevemente. Isso posto, deixo uma lição de casa para você pensar:
Você é o tipo de pessoa que dispensa aquelas muletas para tocar sua vida, ou bate três vezes na madeira e faz figa para espantar o azar?
Pensa e age de acordo com sua voz interior, ou se deixa levar por signos, amuletos, rezas e demiurgos que exploram a ingênua credulidade humana?
Encara o mundo de frente com coragem e soberania, ou se refugia medrosamente nas sombras de uma delirante e falsa espiritualidade?
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Sim, refiro-me às superstições, rezas, lendas, videntes, oráculos, ocultismo, fantasmas, encantamentos, entidades, mestres, seitas, curandeirismo, paranormais, mistérios, anjos, alienígenas... um complexo sinérgico de crenças à disposição do cliente. Um autêntico festival do imaginário transcendente, resquícios do 'pensamento mágico' praticado pelos antigos, um coquetel maliciosamente embriagador de utopias, ilusões e fantasia,s do qual se nutrem e no qual repousam docilmente os espíritos notadamente imaturos.
Estou falando daquela transcendência cosmética, artifícios ou "penduricalhos" que o homem carrega no bolso e na alma e a eles recorre sempre que necessitado. E ele está sempre necessitado. É uma conduta consagrada em nome da sua fraqueza, covardia, insegurança e outros débitos, posto que a crença é orgânica, social, psicológica e cultural. Nenhuma dúvida quanto a isso, é dado de realidade. As muletas metafísicas servem a essa alma claudicante, em desequilíbrio, que não se sustenta por si só. Ela precisa destes expedientes porque não dá conta de suas dores, sua fragilidade e sua vulnerabilidade.
O mundo real é duro, implacável, não permite conversa fiada, subterfúgios, tolices, artimanhas, fugas, falsas transcendências. Ele já tem a sua, mais elegante, eloquente e majestosa, e é a ela e somente a ela que podemos nos curvar. A solução fabricada pelo homem é de uma pobreza de causar pena, falaciosa, apequenadora dele próprio, e nem se dá conta disso. Não se dá conta porque não vive sem dela.
Nietzsche lacera mais a ferida quando denuncia que a invenção de um ideal é a mentira maior, a maldição que oprime a realidade. O caldo que se extrai dos seus escritos e de Durand, Bauman, Fromm e tantos outros revela que o medo instalado, absorvido, fortalecido, auto-alimentado e perpetuado no cerne do espírito acaba provocando um efeito colateral de busca de heróis salvadores e protetores. Quer mensagem mais direta? Se quiser, tenho uma dúzia delas. A crença, concorde-se ou não, é obstrutiva, deletéria e contraceptiva para o desenvolvimento do intelecto.
Essa busca pode ser aplicada também a outro ponto muito delicado, objeto de intensa fé e debates vulcânicos: vida após a morte, reencarnação, mundo espiritual, o 'além'. É um outro viés nesse embate entre a finitude humana, a atemporalidade da vida e a solidão cósmica, do qual falaremos brevemente. Isso posto, deixo uma lição de casa para você pensar:
Você é o tipo de pessoa que dispensa aquelas muletas para tocar sua vida, ou bate três vezes na madeira e faz figa para espantar o azar?
Pensa e age de acordo com sua voz interior, ou se deixa levar por signos, amuletos, rezas e demiurgos que exploram a ingênua credulidade humana?
Encara o mundo de frente com coragem e soberania, ou se refugia medrosamente nas sombras de uma delirante e falsa espiritualidade?
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LE BON, G. As
Opiniões e as Crenças. Ícone. 2002.
NIETZSCHE, F. Crepúsculo dos Ídolos. Cia.
das Letras. 2006.
BAUMAN, Z. Tempos Líquidos. J.
Zahar. 2007.
DURAND, G. A Imaginação Simbólica.
Edições 70. 1993.
Encara o mundo de frente com coragem e soberania, ou se refugia medrosamente nas sombras de uma delirante e falsa espiritualidade?
ResponderExcluirNão sou religioso, mas deísta. Torço para que uma força desconhecida reverta uma situação desfavorável. Já disseram que não existe ateu em uma trincheira. Ainda não consigo bastar a mim mesmo. O cagaço bate ao longo da vida, não tem jeito.