Sabedoria de criança é coisa séria
Por mais que eu procure conter meu ímpeto crítico em direção ao mundo da ufologia, não posso me calar diante de tanto despautério,
tanta vigarice, tanta desvario e tanto desrespeito com a inteligência alheia. A sua inteligência. Mas, como diz a sabedoria popular, “Haverá
sempre espetáculos medíocres enquanto houver plateias medíocres a lhes aplaudir”. Isso explica por que os medíocres rechaçam tudo aquilo que sua compreensão não alcança.
Faço o que faço do jeito que gosto e sei fazer: pela palavra, denunciar a falácia intelectual com requintes de lavagem cerebral contida nesse pacote, que produz um poderoso efeito multiplicador e ressonante. Dois pensamentos ajudam a entender minha atitude. De Rabelais: "Conheço muitos que não fizeram quando deviam, porque não quiseram quando podiam". De Hilel, rabi filósofo do século I: "Se não eu por mim, quem o será? Mas, se eu for só por mim, que serei eu? Se não agora, quando?"
Pode ser que minha percepção
esteja errada –acho que não – mas na observação do cotidiano sinto que o
olhar das pessoas sobre o assunto vem mudando gradualmente, pelo menos dentro de
uma faixa etária mais madura, mais vivida, mais experiente. Que mudança é essa? Qual ou quais fatores seriam
responsáveis por esse comportamento, se é que acontece realmente e não seja um equívoco meu? Não conto o público fiel
que lota congressos, seminários e fóruns que rodam país afora, sempre ávido por novas
“revelações”, novos casos e novas descobertas. Esse público não vai mudar. O que ele não percebe é que não há novidade alguma, é sempre a mesma coisa travestida de nova, pura enganação, mas se a plateia aplaude...
Vamos supor, por um momento, que eu esteja certo e
que há de fato um novo enfoque nas ruas, um movimento silencioso indicando uma postura, digamos, de maior consciência dos fatos. Devemos deduzir
múltiplas causas mas é impensável elenca-las todas neste espaço. O
acesso, a velocidade e a quantidade de conhecimento disponível sem dúvida são algumas delas, sem entrar no mérito da qualidade da informação, óbvio. A internet é um veículo
facilitador, mas cuidado, Umberto Eco dizia que a internet democratizou a imbecilidade, e ele está certo. A leitura que se faz hoje do mundo também mudou, porque o mundo mudou, e
isso certamente contribui muito para um novo pensar.
Essa minha percepção ultrapassa o âmbito regional porque quando conversei com colegas pesquisadores em Paris, há um ano, eles relataram que os franceses, de modo geral, não se interessam mais pelo assunto
como antigamente, considerando-o exótico e fantasioso. Não se apresse, não estou tomando a parte pelo todo, em particular o francês como um novo padrão de conduta, falta consultar o resto do planeta, mas é um dado de realidade, logo, de reflexão. Em contato mais frequente com o historiador português Joaquim Fernandes, fico com a mesma impressão. Para resumir, o interesse continua existindo, mas nem de longe com a mesma intensidade de antes. Entra na conversa quando falta assunto melhor.
Penso que há ainda outro aspecto
que deve ser examinado mais de perto: a formação e a educação das
crianças. É claro, muito em função do ambiente social e de como pais e/ou educadores veem e transmitem seus
conceitos sobre a questão. É uma enorme responsabilidade a qual me empenho por inteiro. Não raro nos
surpreendemos como os pequenos absorvem conhecimentos e técnicas – não só tecnologia (celulares, micros, aplicativos...) – mas do mundo mesmo, e isso
naturalmente inclui assuntos de natureza pouco usuais como a vida
extraterrestre, por exemplo. De novo, não estou generalizando, mas faça um teste com seu filho, sua sobrinha, e depois me conte. A história que trago me parece emblemática, vivida pelo filósofo e teólogo Rubem Alves.¹ Naturalmente, é um caso isolado, mas vale a pena refletir sobre ele.
Conta ele que estava com sua filha de 7 anos assistindo ao filme “ET – O extraterrestre”, de Spielberg. Na sequência final, quando o simpático alienígena está se despedindo de seus amiguinhos, ele notou a filha em prantos, um choro silencioso e pungente. Reparou que também ele estava com os olhos lacrimejados. Na volta para casa, vendo a menina calada e entristecida, tentou animá-la: - Veja como o céu está estrelado, para qual estrela o ET terá voltado? Como resposta, silêncio.
Conta ele que estava com sua filha de 7 anos assistindo ao filme “ET – O extraterrestre”, de Spielberg. Na sequência final, quando o simpático alienígena está se despedindo de seus amiguinhos, ele notou a filha em prantos, um choro silencioso e pungente. Reparou que também ele estava com os olhos lacrimejados. Na volta para casa, vendo a menina calada e entristecida, tentou animá-la: - Veja como o céu está estrelado, para qual estrela o ET terá voltado? Como resposta, silêncio.
Mais tarde, percebendo a filha ainda calada, com a fisionomia
séria, fechada, tentou descontrair: - Filha, vamos dar uma volta para ver se
encontramos o ET? Desta vez, a menina respondeu: – Pare com isso, papai, ETs não
existem.
– Ah não? Então porque você chorou tanto ontem à noite? [referindo-se ao filme]
A resposta da garota foi de uma simplicidade irretocável.
- Você não entende papai, chorei justamente porque
ETs não existem.
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Sim, assistimos a vigarice ufológica bater todos os recordes, seu Reis!
ResponderExcluirAbraço.