Obras

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sexta-feira, 15 de janeiro de 2016




O que é ser cético?


Antes de entrar no tema de hoje, quero ressaltar que este espaço não será dedicado a opiniões e achismos, ao contrário, terá textos fundamentados em muita leitura, estudo, análise, reflexão, por isso virão acompanhados de indicação literária como estímulo de leitura aos interessados. Dito isto, vamos ao que interessa. 

O que é ceticismo? O que é um cético? O ceticismo, adotado com outra roupagem teórica em ambiente distinto do filosófico (a Filosofia é seu local de origem e o ceticismo é um dos pilotis da filosofia moderna) pode destitui-lo de seu real significado. Daí, como sempre, reporte-se ao estudo etimológico para dar a conhecer seu conceito correto e definitivo: do latim scepticus, do grego skeptikosskepticism, significa indagar, refletir, observar, examinar, investigar e duvidar, sim, mas com inteligência e equilíbrio, praticando e aprimorando o espírito crítico a partir do conteúdo do conhecimento adquirido.

O autêntico cético não é nunca intransigente e duro opositor ou um descrente categórico contumaz, e sim um pensador incansável, sensível e flexível em suas posições, mas ao mesmo tempo exigente em suas prerrogativas. Ele é aquecido pela chama da inquietude, em permanente ebulição atrás de saciar sua sede pela verdade, e mesmo que não a encontre, valerá a pena entregar-se às searas do conhecimento. 
   
Vale trazer aqui um parágrafo da obra de Jean-Paul Dumont, Scepticisme (França, 1986), com tradução de Jamir Conte: "O termo ceticismo terminou por designar, hoje, na linguagem comum, uma atitude negativa do pensamento. O cético é visto, freqüentemente, não apenas como um espírito hesitante ou tímido, que não se pronuncia sobre nada, mas como aquele que, qualquer coisa que aconteça ou qualquer coisa que se possa dizer, se refugia na crítica. Da mesma forma, acredita-se ainda que o ceticismo é a escola da recusa e da negativa categórica. Na realidade (...) o ceticismo não autorizaria qualquer posição decidida, a começar até pela que consistiria em afirmar, muito antes de Pirro e como Metrodoro de Abdera, que sabemos apenas uma coisa: que nada sabemos. Os céticos qualificam a si mesmos de zetéticos, isto é, de pesquisadores; de eféticos, que praticam a suspensão do juízo; de aporéticos, filósofos da contrariedade, da perplexidade e dos resultados não encontrados."

Ficou claro que não era intenção fazer uma imersão histórica e filosófica obre o tema, nem discorrer de forma acadêmica recorrendo para isso a inúmeros autores, pois o objetivo é simplificar e facilitar a compreensão em termos bastante razoáveis.  O ceticismo traz o germe da crítica, tendo por substrato o esclarecimento dos fatos em discussão. O papel da crítica é exatamente trazer os fatos à luz da razão, como afirma Kant: " [A crítica] é o tribunal que garante a razão em suas pretensões legítimas, mas condena as que não têm fundamento",

A razão crítica  jamais irá render suas armas porque o cético não irá desaparecer, posto que é peça essencial no processo de aprendizado e do próprio conhecimento. Sabemos, todos, o quanto este tema é complexo, extenso e, em certo sentido, inesgotável. Minha contribuição é mínima, mero aperitivo, ao contrário da bibliografia, que parece um fausto e interminável banquete. Não há, contudo, polêmica ou divergências, apenas refinamento para sua mais completa definição, mesmo sabendo que qualquer definição é - por definição - limitante. A redundância é proposital. As obras listadas a seguir são apenas um ponto de partida. O resto da viagem é por sua conta.

HUME, David. Investigações sobre o Entendimento Humano. São Paulo. Ed. Unesp. 2004.

LANDESMAN, Charles. Ceticismo. São Paulo. Loyola. 2006.

RUSSELL, Bertrand. Ensaios Céticos. Porto Alegre. L&PM. 2013.

SMITH, Plínio J. O que é Ceticismo.  J. Zahar. Rio de Janeiro. 2004.

VERDAN, André. O Ceticismo Filosófico. Florianópolis. Ed. UFSC. 1998.