Obras

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quarta-feira, 24 de fevereiro de 2016


Teatro Ufológico. Comédia ou Tragédia?

Depende de como se olha a questão. De perto pode ser uma comédia, de longe, uma tragédia. Ou pode ser ambos.Vejamos. O que um ufólogo deveria pesquisar? O Óvni, o Ufo, a nave extraterrestre, o disco voador, o que seja. É o que ele pesquisa? Não, absolutamente não. E por que não? Porque não se pesquisa o que não se tem em mãos para pesquisar. Como assim? Façamos uma rápida reflexão.

Imagine uma equipe médica investigando a etiologia de uma doença rara e misteriosa através unicamente de fotos dos pacientes e dos órgãos lesados, da pele manchada, dos relatos sobre suas dores, incômodos, dificuldades. Nada de laboratório, nada de biópsias, nada de exames clínicos. Imaginou? Você acha que esse grupo conseguirá diagnosticar as causas da doença? De qual doença? Terá ele a capacidade de determinar a população de risco, de prognosticar a gravidade, os sintomas e o grau de deterioração do corpo, qual o tratamento adequado e o princípio ativo capaz de estancar a progressão do mal e até sua cura? Não, absolutamente não. Sem o conhecimento profundo da matéria e sem o objeto da sua investigação, o grupo não vai a lugar algum. O câncer vai matar o infeliz e a equipe médica morrerá na ignorância. O mesmo raciocínio se aplica à Ufologia.

Por que comédia?

A graça nisso tudo está pelo fato de a Ufologia se investir de uma autoridade que não lhes pertence, de acreditar nessa pretensa autoridade e no seu falso saber, servindo de cenário roto para o papel farsesco dos seus membros, que fingem investigar aquilo do qual não têm a menor ideia do que seja. Em outras palavras, estão mais para caçadores de Óvnis e coletores de casos, como eram as sociedades tribais arcaicas dos caçadores-coletores de 30 mil anos atrás.

Ser ufólogo, portanto, é uma abstração, um equívoco, uma falácia, é pertencer a uma categoria inexistente, é viver fora do mundo real, mas dentro de uma irrealidade toda particular. Não obstante os abnegados e valorosos pioneiros terem investido suas vidas nessa aventura, é óbvio que estavam – e estão, todos, ainda hoje, totalmente despreparados e inabilitados para exercerem essa complexa atividade. Ouvi alguém perguntar "- Então quem está preparado?"? Falarei sobre isso oportunamente, não vou deixar você na mão.

Por que tragédia?

Se o ufólogo não pesquisa o que deveria pesquisar do jeito que deveria porque não está intelectualmente preparado, se não tem o indispensável conhecimento da matéria, se não sabe como nem por onde começar, e se não tem o objeto de estudo para destrinchar seus mistérios, o estrago se concretiza no produto final que chega ao consumidor – na informação deturpada, corrompida, manipulada, prostituída na essência. E o público, ingênuo, leigo, acredita na palavra do estudioso, afinal, “se o ufólogo diz que disco voador existe e ele é o cara que sabe do assunto, quem sou eu para questionar?” "Se o médico me diz que o colesterol subiu, tenho que tomar os remédios que ele receitou". Não é desse jeito que a coisa funciona?

E assim, ao longo destas últimas quase sete décadas, a Ufologia tem mostrado ser de uma incompetência exemplar, de uma impostura cavalar, a peça bem mal encenada do que é uma antipesquisa graças à inépcia de seus roteiristas. Sim, leitor, eu sei, também pertenci a esse elenco de atores, mas com a diferença de que um dia abri os olhos, e ao me dar conta que participava de uma tragicomédia, saí de cena. Como todo teatro, esse também é só uma farsa, uma fantasia, uma ficção, porém, como toda  obra de ficção, ela igualmente fala a verdade, sob outra linguagem, outra narrativa e outro figurino. Resta ao público entender essa linguagem, ou continuará aplaudindo o que pensa ser o real. Fim do primeiro ato. Cai o pano.