SINAPSES DIGITAIS
Sinapses digitais? Sim, não é teoria delirante muito menos ficção, é pesquisa científica de quase uma década que corre o mundo e começa a dar os primeiros resultados. Trata-se de um neologismo que procura explicar o que está acontecendo com nosso cérebro a partir das interações com o universo digital. Sim, sua massa cinzenta está mudando e você nem percebe. E isso é bom ou ruim? Depende de como se olha a questão. De saída, é claro que os benefícios da tecnologia digital são extraordinários, promovendo a difusão do saber a patamares inimagináveis. Porém, no outro prato dessa balança, há aspectos relacionados diretamente ao uso desse instrumento que têm um peso considerável na construção do conhecimento. É o que contém esse prato que nos interessa, baseado nos estudos em curso, na literatura que crescente, nos debates, fóruns e na justa preocupação dos especialistas.
A dinâmica da tecnologia digital está assentada na velocidade da resposta de dados, na capilaridade e volume de informação, que provoca o estrangulamento dela mesma como resultado da produção irrefreável de conteúdo ausente de filtros e critérios. A primeira constatação empírica que se tem é que o sujeito perde a capacidade de apreensão total desse conteúdo, atenção fragmentada e dispersa, desconexão seletiva da realidade, rejeição à leitura de textos mais complexos e, principalmente, incapacidade de reflexão profunda e prolongada.
O que preocupa de fato vem agora. Você leu aqui que está havendo um emburrecimento generalizado, que jovens estão desprezando a literatura de conteúdo e que a capacidade de pensar está esvaziando em todos os estratos, dado que se verifica desde os anos 1980 com crescimento nas últimas duas décadas, coincidindo com a consolidação da internet. Os trabalhos mostram que há uma nova geração de crianças incapazes de pensar por si próprias, e mais que isso, o ingresso excessivo mo mundo virtual pelos jovens e adultos altera a química cerebral, fazendo com que haja uma regressão cognitiva e uma infantilização comportamental. “O cérebro é extremamente sensível ao ambiente, reagindo, modificando e ajustando-se a ele continuamente”, diz a neurocientista Susan Greenfield da Oxford University. Sua colega neurocientista, a americana Maryanne Wolf, afirma que “As pessoas estão percebendo que algo nelas está mudando, que é o seu poder de leitura”.
Para Maryanne, uma das razões para essa mudança está no uso das telas - celulares, tablets, e-books - em tempo quase integral, cirando novos hábitos no processamento das informações que lemos. A leitura de múltiplos textos em tela no lugar da página impressa faz com que “passemos os olhos” muito superficialmente, esfacelando nossa capacidade de entender ou fazer uma análise crítica de argumentos mais complexos, ou ainda de estabelecer empatia com pontos de cista contrários. Tudo isso se reflete, segundo a autora, na performance profissional, na vida social, nas escolhas que fazemos o tempo todo. Impacta, também, na comunicação, no patrimônio cognitivo, na percepção da sutilezas linguísticas, na construção de simbolismos, na captura das estrelinhas e na elaboração de pensamentos originais - os insights.
A sua (dela) especialidade são os processos cognitivos e letramento, e ela é taxativa ao afirmar que nosso cérebro não é programado para interpretar letras e números, um aprendizado que se estruturou ao longo do tempo, cerca de 6.000 anos atrás, ao contrário da visão e da linguagem oral. Cada leitura, sem exceção, requer seu tempo específico de absorção e entendimento. Uma frase, um parágrafo, uma página, um capítulo, um livro, todos pedem atenção, reflexão e compreensão integradas. Quanto maior o texto , menor o tempo de compreensão profunda, daí os tweets serem a ferramenta mais usada no mundo da comunicação coletiva. A preocupação da autora é fundamentalmente com as crianças, os “novos” leitores, os leitores digitais. Que tipo de leitores estamos formando? “Se perdermos gradualmente a capacidade de examinar como pensamos, perdemos também a de examinar serenamente o que pensam aqueles que nos governam”, alerta Maryanne.
Para Maryanne, uma das razões para essa mudança está no uso das telas - celulares, tablets, e-books - em tempo quase integral, cirando novos hábitos no processamento das informações que lemos. A leitura de múltiplos textos em tela no lugar da página impressa faz com que “passemos os olhos” muito superficialmente, esfacelando nossa capacidade de entender ou fazer uma análise crítica de argumentos mais complexos, ou ainda de estabelecer empatia com pontos de cista contrários. Tudo isso se reflete, segundo a autora, na performance profissional, na vida social, nas escolhas que fazemos o tempo todo. Impacta, também, na comunicação, no patrimônio cognitivo, na percepção da sutilezas linguísticas, na construção de simbolismos, na captura das estrelinhas e na elaboração de pensamentos originais - os insights.
A sua (dela) especialidade são os processos cognitivos e letramento, e ela é taxativa ao afirmar que nosso cérebro não é programado para interpretar letras e números, um aprendizado que se estruturou ao longo do tempo, cerca de 6.000 anos atrás, ao contrário da visão e da linguagem oral. Cada leitura, sem exceção, requer seu tempo específico de absorção e entendimento. Uma frase, um parágrafo, uma página, um capítulo, um livro, todos pedem atenção, reflexão e compreensão integradas. Quanto maior o texto , menor o tempo de compreensão profunda, daí os tweets serem a ferramenta mais usada no mundo da comunicação coletiva. A preocupação da autora é fundamentalmente com as crianças, os “novos” leitores, os leitores digitais. Que tipo de leitores estamos formando? “Se perdermos gradualmente a capacidade de examinar como pensamos, perdemos também a de examinar serenamente o que pensam aqueles que nos governam”, alerta Maryanne.
Um elemento importante detectado pelas pesquisas é a diminuição na capacidade de memória, desde os dados mais simples como telefones, datas e nomes, aos mais complexos. A comunicação digital provocou um empobrecimento da redação, do vocabulário, da leitura e da interpretação de textos, logo, da compreensão da realidade. O virtual, certo ou errado, assumiu o papel central das experiências reais, do entendimento do mundo. A informação multiplicada se sobrepõe à reflexão, a imagem à palavra, o que não é ao que é, o impessoal ao presencial. O “bônus” da individualidade tem o ônus do isolamento. A contradição: o surgimento de grupos ou tribos dos igualmente isolados.
A combinação individualismo-solidão implica combustão espontânea: estou só e preciso ser visto. Como um náufrago, lanço mensagens engarrafadas na esperança de ser lido, ouvido e achado (amado?). A cacofonia babélica é ensurdecedora. Se o sujeito passa o tempo todo ocupado em exibir-se para seu público-alvo imaginário, é razoável supor que seu cérebro esteja estacionado na mesma proporção. A impaciência para se obter o máximo de informação desmantela a leitura crítica e consequentemente de se chegar ao conhecimento efetivo. Maryanne novamente: “Deixamos de estar profundamente engajados no que estamos fazendo, o que torna mais improvável que sejamos transportados para um entendimento real dos sentimentos e pensamentos do outro”.
E o que afinal sinapses têm a ver com aprendizado? Aprender é uma função complexa que implica modificações neurológicas celulares e eletroquímicas. A formação de uma sinapse está intimamente ligada à capacidade de aprendizagem e na interação com o lugar, pois as estruturas do sistema nervoso processam as informações criando, fortalecendo ou enfraquecendo as sinapses. Treino, memorização e constância de uma dada habilidade estimulam sinapses e aumentam a qualidade no processamento da ação. O contrário é igualmente válido, se uma habilidade é pouco explorado, a tendência será as sinapses perderem ritmo, desempenho e função até desaparecerem. Aí as s cavernas nos esperam de volta.
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Maryanne Wolf, O Cérebro no Mundo Digital. Contexto, 2019.
E o que afinal sinapses têm a ver com aprendizado? Aprender é uma função complexa que implica modificações neurológicas celulares e eletroquímicas. A formação de uma sinapse está intimamente ligada à capacidade de aprendizagem e na interação com o lugar, pois as estruturas do sistema nervoso processam as informações criando, fortalecendo ou enfraquecendo as sinapses. Treino, memorização e constância de uma dada habilidade estimulam sinapses e aumentam a qualidade no processamento da ação. O contrário é igualmente válido, se uma habilidade é pouco explorado, a tendência será as sinapses perderem ritmo, desempenho e função até desaparecerem. Aí as s cavernas nos esperam de volta.
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Maryanne Wolf, O Cérebro no Mundo Digital. Contexto, 2019.