Obras

Obras

sexta-feira, 24 de fevereiro de 2017


Não torne sua cultura obsoleta
carlosalbertoreis51@gmail.com



Recentemente dei uma entrevista à distância para o programa Vida Inteligente, do meu amigo Grego, de Florianópolis (link abaixo). Uma conversa informal ao sabor do próprio encontro 
sem pauta antecipada, um apanhado geral da minha trajetória ao longo de quase cinco décadas. A certa altura, ao ser perguntado por que tenho declinado de participar de congressos e seminários de ufologia, dei a única resposta honesta e sensata que poderia dar, prevendo e prevenindo que seria tomado por arrogante ao dá-la.

Não sei se os comentários foram nessa linha, o que sei é que me rotularam de "desinformante", aquele que "sabe das coisas" mas profere um discurso de contrainformação, quem sabe um conspirador contra a verdade dos fatos a serviço de algum órgão governamental... O arroubo paranóico nessas horas é inversamente proporcional ao patrimônio intelectual. Tenho pena de quem pensa assim porque, na verdade, nem pensar sabe, e em não tendo lastro cognitivo para discutir o assunto, se escuda na ignorância e no argumentum ad hominem, neste caso atingindo o entrevistador, como se este não soubesse com quem tem se relacionado nos últimos 30 anos. Um pouco de juízo faria bem. Cultura, informação e respeito também.

Não foi a primeira vez, não será a última.

Tempos atrás, numa discussão acirrada com um amigo sobre o assunto, achei prudente encerrar o papo, sem poupá-lo de uma severa crítica. Enquanto ele embolora agarrado aos seus velhos e surrados livros e conceitos nauseabundos sobre ufologia, eu me surpreendo, me preparo e me descubro a cada nova leitura. Enquanto ele persiste no discurso paleolítico anódino, eu venho com reflexões estimulantes e inteligentes bebidas de fontes da melhor qualidade. Resultado, cresce entre nós um fosso profundo, um desnível cultural e uma defasagem de conhecimento que inviabilizam qualquer debate minimamente racional. É vergonhoso e assustador ver o estrago devastador que a boçalidade e a mediocridade estão causando na vida individual e coletiva.

Esse breve e triste episódio se reflete nas plateias de ufologia, que só estão lá para ouvir falar de contatos, abduções, círculos ingleses, revelações iminentes, teorias delirantes e todo esse insuportável espetáculo de tolices. Respondendo à entrevista, não tenho mais nada a ver com esse público de ouvidos moucos, que também não tem o menor interesse em me ouvir, sairia no meio da palestra. Perda de tempo para todos. Exagero? Assista ao vídeo. Não me surpreendi quando meu interlocutor revelou ter passado por uma situação dessas ao ver metade do auditório sair ao perceber que não iria ouvir o que gostaria de ouvir e estava lá para isso.

O que podemos concluir disso? Que cultura é uma questão de escolha. Abrir um livro é navegar por um oceano de descobertas, viajar na história, conhecer o homem, o mundo e a vida. Debater com mentes esclarecidas e adultas é uma colheita de saberes. Tenho dito aqui que somos criaturas privilegiadas pelo dom do intelecto, a única espécie a ter consciência de si e capaz de escolher que caminho seguir. Quem não usufrui da dádiva sabendo que ela existe deve permanecer onde está - no limbo e nas sombras - para não estorvar o caminho iluminado de quem quer seguir em frente. 


- Mestre, qual é o segredo da felicidade?

- Não discutir com idiotas.
- Não concordo que esse seja o segredo.
- Você tem razão.


Cultura é patrimônio da humanidade. Um ótimo exemplo vem de uma garotinha de 7 anos de Nova Iguaçu, Rio de Janeiro. Ela poderia muito bem só brincar com bonecas ou "pular amarelinha", mas, mesmo não sabendo ler, retirou mais de 20 livros da biblioteca comunitária do bairro ao longo de janeiro para que sua mãe os lesse para ela. Um tapa com luvinha de pelica. Analfabetismo cultural não tem desculpa.

http://jovempan.uol.com.br/programas/jornal-da-manha/sem-saber-ler-menina-de-7-anos-ganha-premio-de-leitora-destaque-no-rj.html


Vale a pena trazer mais um exemplo, no outro extremo da vida. Perguntada sobre o que é "viver bem", a escritora Cora Coralina (1889-1985), em seus 96 anos, respondeu: "Procuro sempre ler e estar atualizada com os fatos. O melhor roteiro é ler e praticar o que leu"..."Sei que alguém vai ter que me enterrar, mas eu não vou fazer isso comigo" ... "Descobri, no caminho incerto da vida, que o mais importante é o decidir".





Assista ao vídeo: https://www.youtube.com/watch?v=ZtsOWYwN22w

sábado, 18 de fevereiro de 2017

Só o outro pode dizer quem sou,
mas eu desconheço quem é ele
carlosalbertoreis51@gmail.com



Continuando o assunto da semana passada, caso você não tenha lido recomendo que o faça, ou vai pegar o trem em movimento sem saber para onde está indo. Recapitulando, alteridade é assunto de gente grande e cabeçuda. "Cabeçuda", na minha língua, é quem tem grande capacidade de reflexão e inteligência para chegar à estratosfera do pensamento. Discutir alteridade é para poucos.


O título acima resume o problema. Como ser o que não sou se ainda nem sei quem sou? Como ser o que nunca fui, se nunca fui o que penso ser? Entre mim e o outro há um silêncio e entre todos os outros, todos os silêncios. Esforçamo-nos para compreender essa linguagem silente, mas estamos na pré-história do conhecimento de nós como primatas engravatados. Nada sabemos sobre nós, conquanto alguns creem saber tudo sobre os outros, e você sabe de que "outros" estou falando.

Para enfrentar essa longa caminhada em busca de uma identidade, alguns balizadores são fundamentais: ética, formação humanista, autocrítica, educação, responsabilidade. Conforme esclarece Abbagnano, alteridade é "Ser outro, pôr-se ou constituir-se como outro". Quem sabe a máxima socrática não poderia ser reescrita para Conhece o outro para conhecer a ti mesmo. Que identidade é essa, qual é nosso Rosto? Temos um?


O outro vai além de simplesmente refletir a nossa imagem. Ele é nosso algoz porque reflete o que julgamos ver ou imaginamos ser. Rimbaud escreveu: "Eu é um outro", um efeito boomerang: A ideia nuclear da alteridade é nos colocar como "outro" e trazê-lo de volta a nós. Somos essencialmente seres relacionais dentro de um solipsismo multitudinário. Nota de rodapé: o selfie é o exemplo bem atual de busca da identidade, quando "saio" de mim para mostrar-me ao(s) outro(s) e a mim mesmo, imagem que supostamente é diferente daquela que vejo no espelho. 

É na relação com o mundo, com a natureza, as coisas e as pessoas que nos fazemos, daí surgindo nosso Eu e nossa identificação com o mundo, a natureza, as coisas e as pessoas. E é dessa relação tensional, inclusive, que desenvolvemos as artes, as religiões, a imaginação e as crenças como formas de se integrar, interagir, entender e se fazer entender. Lacan elaborou suas teorias como base do desenvolvimento da função do Eu no denso trabalho "Estádio do Espelho". Em certo momento, após a fase inicial de contato com esse outro corpo, ainda não reconhecido como seu, a criança adquire a sensação de totalidade e unidade. Antes disso, ela possuía uma sensação de fragmentação, de despedaçamento, de corpo desgovernadoO espelho dá a ilusão de unidade. Os itálicos encontram sua correspondência a seguir.

Ao admitirmos nossa infância e solidão cósmicas - e elas são reais, é possível traçar paralelos com o estudo lacaniano: 
a presença do alienígena dá ao homem a mesma ilusória sensação de totalidade e unidade, dissipa sua desorientação e lhe fornece um registro identitário. Outro, em latim, é alienusAlienígena o "de fora" ou qualquer outro fora da dimensão humana - deuses, anjos, demônios, espíritos. Bizarros, anômalos, burlescos, habitantes do reino da fantasia, do imaginário, dos mitos e dos delírios, por isso mesmo tão cativantes. Como o homem é marcado pela incompletude, insuficiência, fragmentação e descaracterização de si próprio, sente que algo lhe falta, e crê que a 'alienterapia' lhe restituirá o ser integral e mitigará a dor provocada pela presença desse vazio. 

Depois dessa resumida e complexa reflexão, você ainda acha que o fenômeno Óvni pode ser reduzido à ideia vulgar de naves e seres extraterrestres? Não tenho nenhum escrúpulo em afirmar que só mentalidades medievais se ancoram em um raciocínio tão raso, pobre, rançoso. Alteridade é apenas um dos requintados pratos de um fausto banquete proporcionado pelo estudo sério do fenômeno Óvni para pessoas de refinado saber, rejeitado pelos acometidos de inapetência ou abstinência cultural.


_____________
Emmanuel Lévinas, O Humanismo do Outro Homem. Vozes, 1993.
Nicola Abbagnano, Dicionário de Filosofia. Martins Fontes, 2007.
Antonio Quinet. Os Outros em Lacan. Zahar, 2012.

sábado, 11 de fevereiro de 2017



eu sou vários outros
carlosalbertoreis51@gmail.com
________________________


Observação importante (último aviso): Não leia o blog pelo celular, é recomendação médica para não forçar a visão. Dedique alguns minutos lendo no computador, até porque as matérias pedem atenção e reflexão para seu pleno entendimento.
________________________


Desde já aviso que o tema hoje é espinhoso, de difícil digestão, porque fala de nós, todos nós, e dos outros, todos os outros, razão pela qual dividi em duas partes, sendo esta primeira um tanto introdutória. Os estudos sobre alteridade não são poucos, não são novos, não são rasos e serão cada vez mais densos. O Outro é chave fundamental para a Psicanálise, a Psicologia Social, a Antropologia e Filosofia para a compreensão do homem. Mas, outro quem? Todos, o próximo e o distante, o presente e o ausente, o velho e o novo, o irmão e o anônimo, deus e o diabo, o imigrante e o refugiado, todos. Acho que já falei disso aqui, talvez usando o exemplo dado por Sartre em O Ser e o Nada no capítulo "O olhar". Só que o enfoque agora é outro (com perdão do trocadilho), onde trabalho com a ideia de um vidro semitransparente, tão revelador quanto enigmático. O que vem a ser isso? Tu és o espelho de mim; somos, assim, in(ter)divíduos, dizia Emmanuel Lévinas.

Ao se fazer uma consulta médica, o clínico examina, diagnostica e prescreve o tratamento. Se há uma disputa jurídica em curso, o advogado submete aos trâmites legais para resolver o caso. Quando o carro enguiça, é o mecânico quem substitui a 'rebimboca da prafuseta' para fazê-lo funcionar. Se o computador der pane, só o técnico é capaz de recuperá-lo. Em suma, só quem é do ramo pode dar conta do problema. Não é o que acontece na ufologia, onde a inépcia e inabilidade de um compromete o resultado do todo.

O sujeito existe em função do outro, mas o paradoxo está em que é preciso um desaparecer para o outro existir sem a imagem sobreposta. O temor não é que o outro me faça falta, mas que eu faça, porque ele pode existir sem mim. O outro fala muito sobre mim, enquanto nada sei sobre ele. Só compreendendo-o compreenderei a mim, e só quando compreender a mim compreenderei a ele. Aporia absoluta. É a lógica da dialética e da alteridade preconizada por Paul Ricoeur, mas quem vem 'complicar' ainda mais é Lévinas, novamente, para quem o Outro é um outro Eu. Faço uma licença poética para dizer Eu somos nós.



Como a suposta experiência visual ou de contato com o alienígena é impactante e "indizível" pela própria natureza, ela toma contornos de veracidade e legitimidade, fato esse que consagra o erro primário do pesquisador, que acredita na testemunha que acredita no pesquisador. O impasse perdura num acordo mudo de interesses, de cumplicidade recíproca: Um diz o que o outro quer, gosta e precisa ouvir, não importando quem é um e quem é outro.

Nesse momento em que ufólogo e testemunha se encontram, interpomos o tal vidro semiopaco o qual, ao mesmo tempo em que reflete a face de um, deixa ver a do outro. E o que acontece? Exatamente, as faces se sobrepõem, se (con)fundem, um é o outro, um se vê refletido no espectro do outro. O enigma é saber o que há no vácuo formado entre eles, no silêncio que se manifesta entre e por trás das palavras. O silêncio fala, e isso não é poesia, é a senha para as áreas citadas, as quais não ouso invadir. Para o filósofo Santiago Kovadloff, este silêncio "vibra o eco de uma presença sem rosto". 

Saiba que alteridade não é apenas entre sujeitos, mas entre sujeitos e objetos, e com isso a complexidade cresce exponencialmente, na certeza de jamais exaurir o assunto. Agora, por um instante apenas, vamos colocar essa reflexão em termos de ufologia e teremos aí uma difícil equação com quatro componentes, ou, nessa linguagem, quatro "outros": o ufólogo, a testemunha, o alienígena e o disco voador, este entendido como "fenômeno". Um intrincado jogo de espelhos que reflete a si e aos demais. Qual o verdadeiro rosto de cada um? Há um rosto verdadeiro? Seria a presença sem rosto da qual fala Kovadloff? Todavia, há um complicador (mais?) - nenhum deles conhece o outro! E eu me atreveria acrescentar o mundo, o cosmo e a transcendência, ou, se preferir, deus.

Presença sem rosto. Impossível não trazer Roger Scruton em sua brilhante construção filosófica sobre o Rosto do homem, do mundo e do transcendente, Deus. Para ele, a inteireza da subjetividade do sujeito inexiste sem o olhar do outro. E onde está o Rosto que não me vê e eu não vejo? E se o Rosto do outro não é o mesmo que eu vejo? O mundo que me vê é o mesmo que eu vejo? Sentiu o peso da dificuldade e da responsabilidade no trato da coisa? Percebeu o valor e a extensão do estudo? Semana que vem tem mais.

Agora que você terminou de ler, veja a entrevista:
https://www.youtube.com/watch?v=ZtsOWYwN22w

_____________________
Paul Ricoueur. O Si-mesmo como um Outro. Papirus, 1991.
Emmanuel Lévinas. Entre Nós - Ensaios sobre a Alteridade. Vozes, 2005.
Samuel Kovafloff. O Silêncio Primordial. José Olympio. 2003.
Roger Scruton, O Rosto de Deus. É Realizações, 2015.

sábado, 4 de fevereiro de 2017

RRocinante de Troia roia_____
carlosalbertoreis51@gmail.com
________________________

Observação importante: Uma amiga comentou que o blog contém textos longos demais para serem lidos no celular. Concordo, porém, por orientação médicanão se deve forçar a visão lendo textos longos no celular; as matérias pedem reflexão e não simples leitura, porque são temas complexos e não permitem reducionismo. Por isso, sugiro dispensar alguns minutos lendo-as no computador com atenção dedicada para absorção adequada do conteúdo.
_____________________

Quando Cervantes escreveu Don Quijote (1605-1615), ele jamais poderia imaginar que sua obra se tornaria um marco na literatura universal, objeto de longos estudos sociais, dissecada à exaustão pela Academia, traduzida para vários países. O elegante e "louco" fidalgo arrebatou uma legião de admiradores e sua aventura é representada em todo o mundo. Um clássico, primoroso e inovador, uma 'imposição' à autorreflexão sobre ética, justiça, prudência, virtude, inteligência, fantasia e realidade. Mesmo que você nunca a tenha lido, sabe do que e de quem se trata, e sabe também o alcance das inúmeras interpretações que a obra engendrou. E a ufologia permite trazer mais uma. Primeira pausa.


Por força de tanto imaginar e tantas leituras insensatas,, me afastei da realidade ao ponto de não mais saber distinguir em que dimensão eu vivo.

Narrada na Ilíada de Homero, a batalha entre gregos e troianos - a Guerra de Troia - teria ocorrido por volta de 1300 a.C. segundo os estudos arqueológicos. Porém, o episódio do cavalo seria lenda, uma narrativa épica de viés mitológico, o popular "presente de grego". Essa história você também conhece, mas deve estar se perguntando o que o aclamado romance do século 17 tem com o conflito bélico da antiguidade? O que há em comum entre eles e o que diabos a ufologia está fazendo aqui? Segunda pausa.

O medo que tens faz com que nem vejas nem ouças direito, porque um dos efeitos do medo é turvar os sentidos e fazer com que as coisas não pareçam o que são.

Sua inteligência, leitor, chegou antes que minhas palavras, tenho certeza. O imaginário quixotesco faz parte da sua vida tanto quanto a epopeia grega. O que proponho é unir um e outro através do elemento comum - o cavalo de Troia e Rocinante, a montaria do nobre sonhador - para traçar o perfil daqueles que nutrem fantasias e delírios como rota de vida. Ou de fuga. Séculos depois, Homero e Cervantes se juntam para contar essa nova história. Mas, ao contrário que que fiz em Naus, não vou falar do humano, essa criatura pendular e aporética. Também não vou falar do auto-intitulado ufólogo, que sobre esse já esgotei meu vocabulário, nem da ficção científica como roupagem tecno-mística do discurso ufológico.

- Valha-me Deus! Não lhe disse eu a Vossa Mercê que reparasse no que fazia, que não eram senão moinhos de vento, e que só o podia desconhecer quem dentro da cabeça tivesse outros?

O heroico cavaleiro de triste figura deu de ombros e seguiu impávido em sua obstinada luta contra moinhos de vento imaginando gigantes medonhos, rebanhos de ovelhas como exércitos inimigos, monges e mercadores como indignos raptores de princesas. Cervantes dera vida a um personagem para nos ajudar a desvendar o mistério que somos todos, a encontrar os verdadeiros valores da vida humana e, principalmente, através de seu nada coadjuvante fiel escudeiro Sancho Pança, a olhar de frente para a realidade do mundo, deixando as fantasias da imaginação serem apenas o que são, poesias da alma.



A ufologia é essa aventura romanesca, para não dizer quimérica. Esforça-se para parecer uma proto ou nova ciência, quando não é nada disso - nem proto nem nova muito menos ciência. É o próprio cavalo de Troia, oco, falso, ilusório, e Rocinante, um pangaré capenga, desconjuntado, desnutrido, mal conduzido por Sísifos modernos de triste figura rumo a lugar nenhum. Lugar nenhum - utopia, fruto de uma "cegueira hipnagógica", que causa a supressão dos dados de realidade, no consequente desgarramento desta e na adesão a um realismo fantástico tal como as errâncias desventurosas do nosso imaginoso, valente e honrado cavaleiro de La Mancha.

Don Quijote é "parte da memória da humanidade", disse-o Jorge Luis Borges, mas toda história precisa de um fim, e ele sai de cena com um melancólico suspiro de amor pela vida, pela lealdade e pela verdade. Sua morte é a morte das utopias. Só sentimos isso quatro séculos depois. Espero que você tenha entendido o que é Sancho Pança. Enfim, nas palavras de Calvino, "Um clássico é uma obra que nunca terminou de dizer tudo aquilo que tem para dizer."

Acabo de receber o benefício da razão concedido pelos céus. Perdoa-me, meu amigo, tê-lo levado a passar por louco como eu, fazendo-o cair no erro em que eu caí: acreditar que houve cavaleiros andantes no mundo.