Obras

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domingo, 27 de março de 2016



A Ufologia é uma mentia? Não, mas é uma farsa.


Confesso que me agrada muito quando um leitor se manifesta, seja qual for a natureza do seu comentário. Tenho motivos de sobra para gostar: a livre expressão do pensamento alheio é uma forma legítima de se avaliar o alcance do texto dentro do cenário a que ele se propôs, estimula a reflexão do autor do texto (e dos leitores que o leem) até como forma de autocrítica, se for o caso, e fermenta o intelecto em busca de resposta, esclarecimento ou réplica. No jargão popular, o leitor "levantou a bola" e eu não vou perder a oportunidade de gol. Dito isto, vamos ao que interessa.

No post Teatro Ufológico..., um leitor postou sua opinião a partir do trecho em que comparo a linguagem da Ufologia com a do teatro - "uma farsa, uma fantasia...", e conclui seu raciocínio com "Em outras palavras, a Ufologia é uma MENTIRA". Fica difícil saber se ele compreendeu corretamente a mensagem, se eu, como autor, não fui claro o suficiente na transmissão da mensagem, ou se ele apenas extraiu uma pequena parte do conteúdo como gatilho para expor sua descrença em relação ao tema. Faltou saber também o que ele entende por ufologia. De qualquer modo, até para dirimir dúvidas, tentarei esclarecer o melhor possível.

A Ufologia não é uma mentira, mas uma farsa. A confusão pode estar no verbete "farsa", que não é sinônimo de mentira. Farsa é uma encenação, "representação que induz ao logro, de caráter burlesco" (Houaiss). Neste sentido, não há como negar, essa é a realidade, a Ufologia praticada à revelia do método científico e do pensamento lógico, racional e crítico é, sem dúvida, um teatro farsesco, risível a mais das vezes. Os atores (ufólogos) fingem pesquisar o que acreditam conhecer; o público aplaude sempre a peça ficcional fala o que ele quer ouvir, mesmo que não entenda o roteiro; a mídia explora se a previsão é "espetáculo" e casa cheia, e as autoridades compactuam quando lhes é conveniente e lhes outorga um pretenso poder. Afinal, o show deve continuar.

Agora, espero que o mesmo leitor tenha se interessado em ler o post seguinte - Afinal, por que pesquisar... que é quase uma continuidade do Teatro. O exercício da prática investigava, dentro dos princípios mais rigorosos do pensamento científico, leva não só a entender o mundo e as instituições que fazem este mundo ser o que é e como é, como também, e principalmente, conhecer a nós próprios e nosso papel no panorama global da sociedade em que vivemos. Creio que posso resumir tudo numa única e forte palavra: responsabilidade. É por isso que este blog se chama Ufologia século 21.

Assim, meu caro leitor descrente da Ufologia, e  queridos leitores que me acompanham nestas linhas, encerro dizendo que não investi quatro décadas e meia pesquisando uma mentira, embora tenha passado parte dela num "palco", com todos os holofotes a que tive direito. Porém, quando percebi que o meu personagem contrariava os princípios fundadores da minha consciência, saí de cena. Faço um mea culpa simmas não estou aqui para me redimir, nada tenho do que me arrepender. Muito do que aprendi sobre o ser humano devo à Ufologia que, através de suas "mentiras" vem contando muitas verdades. É delas que venho falando aqui, com humildade e respeito a você.







sexta-feira, 18 de março de 2016



O INSTINTO QUE ME MOVE!


O post anterior, Afinal, por que pesquisar “disco voador”, rendeu manifestações que gostaria de comentar, por julgá-las interessantes, começando por um colega da Argentina. Escreve ele que a frase de Elliot e a metáfora do palimpsesto foram muito boas para o ponto de vista da análise. De fato, são situações que experimentamos no cotidiano, muitas vezes sem perceber, e os exemplos a seguir ajudam a entender a coisa.

Quando você assiste pela segunda vez àquele filme que tanto gostou, ou relê um livro que te marcou de alguma forma, irá perceber sutilezas que passaram batidas da primeira vez. E por quê? Porque, neste momento, passados meses ou anos, você se tornou outra pessoa, mais amadurecida, com outras vivências, outros valores, e essa revisão do filme ou do livro lhe dará uma nova perspectiva e um novo entendimento dele próprio e do mundo. E de si mesmo. O objeto é o mesmo, porém visto agora com outros olhos, e fica a sensação de que é a primeira vez. Isso é Elliot.

Para a metáfora do palimpsesto, recorro ao teatro, à ficção científica e ao mito. Como representações que são, mostram uma "realidade" querendo falar de outra que, de algum modo, nos revela, nos desnuda. Só com perspicácia e espírito crítico somos capazes de filtrar a narrativa e decifrar a simbologia embutida. O que Lévi-Strauss diz sobre o mito vale para o teatro e para a ficção, de que o problema está em encontrar a invariante em um conjunto de códigos, em traduzir o que está expresso na linguagem deste conjunto


O impulso de conhecer



Outra participação muito interessante que despertou muito minha curiosidade para o assunto foi a de uma amiga, citando Melanie Klein, psicanalista austríaca colega de Freud: "Melanie dizia que todos nós somos dotados de um instinto epistemofílico, sem o qual nem a nossa própria existência poderia ser mantida." A saber: episteme conhecimento, ciência, e filia - atração, amor, desejo, logo, desejo pelo conhecimento. A expressão foi usada por Freud  ao considerar a existência de uma outra pulsão, designando, mais precisamente, a tendência inata da criança querer conhecer a verdade dos fatos que a rodeiam, para as quais ela não tem explicações. Freud também denominou essa pulsão como instinto do saber ou de pesquisa, mais adequado, mas ele não seguiu explorando esse rico filão. Melanie, por sua vez, estabeleceu uma correlação desse instinto com o desejo de controlar e dominar, em que o conhecimento seria um meio de controlar a ansiedade.

Como acrescentou a leitora, "provavelmente Melanie tenha razão, pois quanto mais conhecemos o meio, mais somos capazes de controlá-lo e dominá-lo. Ela colocava a infância no mesmo patamar daquele em que se inscrevia o Homem primitivo, alguma coisa como a ontogênese sendo o resumo da filogênese”. Trocando em miúdos, a raiz modela o fruto. Muito do que somos se deve ao que fomos. Devemos pensar sobre isso. 

O próximo comentário vem de um amigo de longa data, astrólogo, que alegou não ter ficado convencido dos meus argumentos por considera-los “parcos”. Em primeiro lugar, e que fique bem claro, em nenhum momento haverá aqui pregação de qualquer natureza, muito menos pretensão de convencer, doutrinar ou catequizar quem quer seja sobre qualquer assunto. A intenção explícita é diversificar as bases de reflexão por meio de outras vias de pesquisa, a partir não de um discurso opinativo e proselitismo, mas de fundamentos sólidos criteriosamente selecionados de fontes primárias. Poi isso, a bibliografia, quando houver, será sumária, de caráter meramente introdutório.

Em segundo lugar, este é um espaço que, por princípio, para não enfadar o leitor, pretende ser claro e objetivo, com prolegômenos que preparam o terreno para uma discussão posterior mais ampla e fecunda em outra arena. Especificamente neste caso, para a obra que está a caminho, onde, aí sim, ao longo de 380 páginas e tendo na retaguarda vasta e rica literatura, florescem argumentos consistentes na construção de uma tese.

Por fim, encerro com a participação de outro velho amigo, também da Argentina, que transcrevo na íntegra e no original, ondede maneira singela, traduz e sintetiza  a proposta última deste blog. Faço minhas suas palavras: La curiosidad natural del ser humano nos conduce a preguntarnos sobre los misterios, que empiezan con la vida misma y el cosmos, y a intentar develar o buscar alguna clase de respuesta. Sea ésta científica o filosófica. Luego, algunos sólo nos fascina transitar el camino de la pesquisa, cualquiera sea el objeto de la investigación. Allí nos encontramos con esos "peregrinos" de distintas tierras, con quienes compartimos las mismas. Tu sitio y las reflexiones son nuestros espacios comunes.


ZIMERMAN, D. E. Os Quatro Vínculos - amor, ódio, conhecimento,   
    reconhecimento - na Psicanálise e em Nossas Vidas. Porto Alegre. Artmed. 2010.

LÉVI-STRAUSS, C. Mito e Significado.  Lisboa. Edições 70. 1987.



segunda-feira, 7 de março de 2016


Afinal, por que pesquisar “disco voador”?

Eis aí uma pergunta recorrente que ouvi muitas vezes ao longo de todos esses anos. Aliás, só eu não, muitos, quase todos os pesquisadores que um dia se lançaram nessa jornada devem tê-la ouvido. E todos devem ter dado as respostas mais diversas, cada qual dentro de um contexto todo particular. Interesses pessoais, contingências da vida, curiosidade, falta do que fazer e, em muitos casos, por terem passado pela experiência de ter visto alguma coisa, sem saber exatamente do que se tratava. Não é o meu caso. De qualquer modo, tais situações foram o gatilho para que um dia se tornassem “ufólogos”. 

Por outro lado, todos, sem exceção, acredito, devem ter sentido na carne um olhar enviesado, desconfiado, um esgar, um instante de silêncio – quase de reprovação – por parte do perguntador, como se estivesse a pensar “com tanta coisa importante para fazer na vida, esse cara vai perder tempo correndo atrás de disco voador?!” Confesse, se você não é um de “nós”, em algum momento deve ter passado pela sua cabeça algo semelhante em relação ao seu amigo, sua namorada, um colega de trabalho, seu cunhado... não se preocupe, não é uma crítica. É compreensível. Muito embora alguns adotem uma postura séria e de sincero interesse pelo assunto, o feeling de anos detecta que se trata apenas de um discreto gesto de respeito para com o pesquisador.

Ora, se pesquisar disco voador oferece farta munição para chacotas e piadinhas, se a mídia só bate à porta quando o fato pressupõe espetacularização da notícia, se o investimento em livros, viagens, participação em congressos é alto e sem retorno (financeiro), salvo exceções, por que diabos insistir nessa “coisa de malucos e alienados” se o resultado das pesquisas é matemático, isto é, igual a zero? Pois bem, presumo que a curiosidade deve estar fazendo cócegas em você para saber a minha resposta. Lá vem ela. Antes, uma nota de rodapé: enquanto por que subentende uma causa, para que implica uma finalidade,e é o que me parece muito mais importante.

Quando, no distante ano de 1971, eu tive meu primeiro contato (calma!) com a literatura sobre o tema, obviamente meu interesse foi às alturas. Literalmente. Meus olhos começaram a esquadrinhar a vastidão celeste em busca dos “discos”. Se eu acreditava na existência deles? Claro que sim, mesmo não tendo muita noção de como a coisa acontecia. Foram necessários muitos anos de estudo, muita leitura, muitos congressos, reflexões, debates, vigílias, pesquisas de campo, frustrações e decepções, muita discussão, muitos bastidores e muita encrenca para, enfim, reunir toda essa bagagem e formar um juízo bastante lúcido, amplo, agudo, profundo, sensato, crítico e objetivo, porque o assunto é extrema e ricamente complexo, que não se resolve numa conversa de bar. Muito menos no espaço deste blog, mas é o que tenho pena lançar algumas sementes. Vale a pena.


Por que raios etão pesquiso “disco voador”?

A primeira coisa que posso dizer me remete ao poeta britânico T.S. Elliot (1888-1965): O fim da busca será retornar ao ponto inicial e conhecer o lugar pela primeira vez. Entendo “fim” não como término, encerramento, mas como  perpetuum mobile do saber. Ao fazer e refazer essa trilha inúmeras vezes, senti que caminhava por uma espécie mesmo de espiral - já vira isso antes, mas os olhos eram outros, a perspectiva era diferente, o patamar de conhecimento estava um grau acima, se o considerarmos como um crescente, ou um grau  abaixo, se falarmos em profundidade.

Então, ao encaixar as peças desse quebra-cabeças – mesmo incompleto, amparado por uma constelação de verdadeiros desbravadores do pensamento e profundos conhecedores da natureza humana, de Aristóteles a Kant, de Spinoza a Nietzsche, uma imagem irrompeu fulgurante iluminando toda a minha trajetória: O “disco voador” era, e é, apenas um palimpsesto! E que palimpsesto, simplesmente perfeito! E o que há por trás dele? Quem ou o que ele oculta? Dirá essa esfinge moderna ao intrigado: Decifra-me! Reflete sobre o que vês, porque o que vês te reflete. Decifra-te! Quem tiver olhos para ver, ouvidos para ouvir, cérebro para pensar e sensibilidade para entender a chave do enigma, chegará onde cheguei. E aí, decifrou?