Observação importante: Uma amiga comentou que o blog contém textos longos demais para serem lidos no celular. Concordo, porém, por orientação médica, não se deve forçar a visão lendo textos longos no celular; as matérias pedem reflexão e não simples leitura, porque são temas complexos e não permitem reducionismo. Por isso, sugiro dispensar alguns minutos lendo-as no computador com atenção dedicada para absorção adequada do conteúdo.
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Por força de tanto imaginar e tantas leituras insensatas,, me afastei da realidade ao ponto de não mais saber distinguir em que dimensão eu vivo.

O medo que tens faz com que nem vejas nem ouças direito, porque um dos efeitos do medo é turvar os sentidos e fazer com que as coisas não pareçam o que são.
Sua inteligência, leitor, chegou antes que minhas palavras, tenho certeza. O imaginário quixotesco faz parte da sua vida tanto quanto a epopeia grega. O que proponho é unir um e outro através do elemento comum - o cavalo de Troia e Rocinante, a montaria do nobre sonhador - para traçar o perfil daqueles que nutrem fantasias e delírios como rota de vida. Ou de fuga. Séculos depois, Homero e Cervantes se juntam para contar essa nova história. Mas, ao contrário que que fiz em Naus, não vou falar do humano, essa criatura pendular e aporética. Também não vou falar do auto-intitulado ufólogo, que sobre esse já esgotei meu vocabulário, nem da ficção científica como roupagem tecno-mística do discurso ufológico.
- Valha-me Deus! Não lhe disse eu a Vossa Mercê que reparasse no que fazia, que não eram senão moinhos de vento, e que só o podia desconhecer quem dentro da cabeça tivesse outros?
O heroico cavaleiro de triste figura deu de ombros e seguiu impávido em sua obstinada luta contra moinhos de vento imaginando gigantes medonhos, rebanhos de ovelhas como exércitos inimigos, monges e mercadores como indignos raptores de princesas. Cervantes dera vida a um personagem para nos ajudar a desvendar o mistério que somos todos, a encontrar os verdadeiros valores da vida humana e, principalmente, através de seu nada coadjuvante fiel escudeiro Sancho Pança, a olhar de frente para a realidade do mundo, deixando as fantasias da imaginação serem apenas o que são, poesias da alma.
A ufologia é essa aventura romanesca, para não dizer quimérica. Esforça-se para parecer uma proto ou nova ciência, quando não é nada disso - nem proto nem nova muito menos ciência. É o próprio cavalo de Troia, oco, falso, ilusório, e Rocinante, um pangaré capenga, desconjuntado, desnutrido, mal conduzido por Sísifos modernos de triste figura rumo a lugar nenhum. Lugar nenhum - utopia, fruto de uma "cegueira hipnagógica", que causa a supressão dos dados de realidade, no consequente desgarramento desta e na adesão a um realismo fantástico tal como as errâncias desventurosas do nosso imaginoso, valente e honrado cavaleiro de La Mancha.
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