Obras

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sexta-feira, 7 de abril de 2017


Caminho para o nada

A manifestação de um leitor sobre o post anterior (Insanidade, pantomima ou estupidez?) me chamou atenção, fez pensar e inspirou o texto de hoje. Diz ele que a "enxurrada de ignorância misturada com imaginação e má-fé" é o que constitui a ufologia "que agoniza", e conclui dizendo que "resta velar a defunta, pois sua substituta já assumiu o seu posto com revigorada mentalidade". Compartilho seu ponto de vista, mas concordo só em parte com ele.

Eu não diria que a ufotopia irá "morrer" no sentido literal; o mais provável é se tornar reduto de um emaranhado de falso conhecimento, falsas revelações, falsas pesquisas e falsos mistérios, uma crença como tantas outras. Coincidência ou não, é exatamente sobre essa questão que trato no próximo post, já pronto, postergado em favor deste.

E com o que não concordo? Com a parte do "uma ufologia substituta".

Não, meu caro amigo, não quero ser arauto de nenhuma nova ufotopia para substituir a velha. Em nenhum momento pretendi assumir esse lugar, ser um divisor de águas, um reformador. É verdade que, anos atrás, defendi a ideia de uma "nova ufologia" a partir dos conceitos de Vallée e outros autores, até o dia em que abandonei de vez a atividade investigativa. Desembarquei, mas continuei observando o fluxo das marés, tanto que, duas décadas depois, um amigo me convenceu a escrever textos para um blog que ele mesmo se encarregaria de montar, daí surgindo o Ufologia 3.0 (hoje Ufotopia), para promover meus estudos. Acho que Rabelais me passou uma lição de casa: Conheço muitos que não fizeram, quando deviam, porque não quiseram, quando podiam.

Não, o blog nunca poderia ser uma nova ufologia, ainda que possa parecer, até porque, como substituir o que nunca existiu? Além disso, as propostas são totalmente distintas. Enquanto a ufotopia é uma sistema que se abastece de um repertório falido de contatos, abduções, marcas, filmes, fotos, delírios e um gigantesco histórico de bobagens, meu intuito é apenas e tão somente ser um canal de informação e reflexão ao estabelecer pontes com o saber consolidado.

Se a ufotopia é uma ilha de fantasias, o conhecimento é terra firme de verdades. 

Ufotopia não quer convencer ninguém, não prega nenhuma doutrina, não se verga ao senso comum, não adota posições inflexíveis. Porém, e isso é importante ficar claro, a firme convicção que norteia seu caminho não foi construída do dia para a noite e não se lastreia em ficções, mas na experiência de décadas e em solos férteis e ricos de saberes. Você, leitor, se convencerá (ou não) por sua conta ao sopesar os conteúdos com consciência, lucidez, discernimento. As pontes têm essa função, levá-lo da ilha ao continente para que decida qual direção seguir e onde quer ficar. É uma questão de escolha.

Não precisamos de uma nova ufotopia, já aprendemos o bastante com a antiga. Ao idealizarmos o alien, o de fora, o 'outro', desnudamo-nos por dentro e por inteiro. Esse é o seu único legado - ser uma lente antropológica. O mundo exige um novo modelo de conhecimento, contrário à "especialização": a transdisciplinaridade. Isso não é uma escolha, é o único caminho possível. A ufotopia não atinou para essa transformação, e caminha agora para o limbo, o nada, o vazio. Por quê? Porque ela se "especializou" com esmero e sem escrúpulos em dar respostas simplistas e erradas, quando não falsas, para questões complexas muito acima da sua capacidade de entendimento. Ou seja, despejou disparates, e dos grandes. Ela jamais poderia ser o que pensa ser - ciência - porque nunca buscou ter o que precisava: respeito, credibilidade, solidez e tantos outros requisitos fundamentais. Agora é tarde. O último a sair apague a luz.

Um comentário:

  1. "Diz ele que a "enxurrada de ignorância misturada com imaginação e má-fé" é o que constitui a ufologia "que agoniza", e conclui dizendo que "resta velar a defunta, pois sua substituta já assumiu o seu posto com revigorada mentalidade". Compartilho seu ponto de vista, mas concordo só em parte com ele.

    "Eu não diria que a ufotopia irá "morrer" no sentido literal; o mais provável é se tornar reduto de um emaranhado de falso conhecimento, falsas revelações, falsas pesquisas e falsos mistérios, uma crença como tantas outras. Coincidência ou não, é exatamente sobre essa questão que trato no próximo post, já pronto, postergado em favor deste.

    "E com o que não concordo? Com a parte do "uma ufologia substituta"."

    Longe de querer duelar com o senhor, e na condição de humilde e eterno aprendiz, tentarei ser mais claro:

    É que entendo que os tais fenômenos atmosféricos, aéreos, voadores, celestes ou qualquer designação que se queira dar, continuarão a ser observados,reportados e catalogados, seja lá o que forem. Aceito a existência do fenômeno, só não acho correto dizer que, se é de natureza desconhecida, tem necessariamente que ser uma nave, tripulada ou não, por seres alienígenas moralmente superiores, dignos de culto e que um dia descerão com seu disco e farão o contato. Isto é o que se tem feito e é como esperar Godot. Creio que o fenômeno em si é real. O problema está em sua interpretação, e é aqui que entram a ignorância, a má-fé, a imaginação, as crenças e o tudo o que o senhor tem abordado magistralmente. Se eu descartasse por completo o fenômeno UFO como "história de pescador", nem me dignaria a acompanhar o que ocorre em torno do assunto.

    O blog "Ufotopia Século 21" é um divisor de águas e, queira o senhor ou não, é um contraponto importante ao que se tem propagado sobre o fenômeno UFO e seu "estudo", uma referência e uma inspiração aos que se interessam pelo assunto e que gozam de excelente saúde mental.

    Um forte abraço, senhor Reis, e até sua nova postagem!





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