Obras

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sexta-feira, 18 de agosto de 2017


PARA ENCONTRAR O SABER É SÓ SABER PROCURAR

Um amigo enviou dias atrás um link sobre a opinião do astrofísico aposentado Daniel Whitmire: Vida em outros planetas pode ter sido extinta após se tornar tecnológica. Não vou entrar no mérito da matéria, que é pobre, cheia de incorreções e achismos costurados através de um raciocínio sem qualquer fundamento teórico. Como este existem milhares que não estimulam a menor reflexão. Talvez eu comente sobre ele quando e se surgir a ocasião. O astrônomo despeja suas ilações a partir de crenças pessoais indefensáveis, como aliás toda crença é. Seu diploma não dá a credibilidade que ele talvez tenha imaginado, pelo contrário, depõe contra si e à casse. Enquanto algumas matérias descambam para a irresponsabilidade e a vigarice, essa ao menos foi só irrelevante.

Cada vez mais precisamos tomar cuidado com aquilo que lemos - notícias, dados, explicações, estatísticas, opiniões, ainda mais diante da informação massiva que assola a internet sem qualquer critério, sem falar das distorções maliciosamente tendenciosas e das cancerígenas fake news. O post A cultura da idiotia ficou restrito à ufologia, mas minha preocupação se estende para as esferas do social, da cultura, da política, da ciência, a todas enfim, mas se estendem, principalmente, ao futuro, e ele se me desenha sombrio, para não dizer tenebroso.

Os exemplos vão ao infinito, bem debaixo dos nossos narizes, comprovando as palavras de um dos mais notáveis pensadores do nosso tempo, o semiólogo, escritor, filósofo e doutor honoris causa em Comunicação e Cultura Umberto Eco (1932-2016), numa entrevista em 2011: "As mídias sociais deram direito à palavra a uma legião de imbecis que antes falavam apenas em um bar depois de uma taça de vinho, sem prejudicar a coletividade. Agora, têm o mesmo direito à fala que um ganhador do Prêmio Nobel. O drama da internet é que ela promoveu o idiota da aldeia a portador da verdade. A internet não seleciona a informação (...) A internet ainda é um mundo selvagem e perigoso, nela tudo surge sem hierarquia. A imensa quantidade de coisas que circula é pior que a falta de informação. O excesso causa amnésia. Quando não lembramos o que aprendemos, ficamos parecidos com animais. Conhecer é cortar, selecionar." O itálico é meu, e quero lembrar que cortar, em grego - analyó, é analisar, discernir.

Que sirva de alerta o presságio de Eco: "A internet é perigosa para o ignorante porque não filtra nada para ele. Ela só é boa para quem já conhece - e sabe onde está o conhecimento. A longo prazo, o resultado pedagógico será dramático. Veremos multidões de ignorantes usando a internet para as mais variadas bobagens." Ao que tudo indica, este futuro preconizado pelo erudito italiano já chegou, porque os imbecis e os idiotas estão soltos por aí de tal modo que se pode topar com um ou dois em qualquer lugar o tempo todo, ou seja, a morbi ignorantiam já se alastrou.

A afirmação de Eco inspirou trazer a imagem que ilustra o post e da qual dou a minha versão: Não saber "ouvir", não saber "ler" nem tampouco "falar" é cria legítima do não saber pensar, apanágio dos ineptos. Não sendo o idiota da aldeia e, com certeza, menos ainda o portador da verdade, tomo como baliza o dito de Eco, sendo muito cuidadoso na triagem das informações, leituras, pesquisas, citações, autores e indicações literárias dos textos que assino. Isto porque, ainda segundo Eco - e ele nem precisaria dizê-lo, de tão óbvio - a internet produz muita 'estática', rabarbaro* como ele diz, uma algaravia frenética. Usar a internet de modo consciente sabendo selecionar a fonte da informação é campo fecundo para interpretar o mundo em sua complexa lógica. Este blog procura prestar esse serviço da melhor forma possível.

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* Eco explica que rabarbaro é um recurso das óperas italianas, quando é preciso reproduzir o burburinho das multidões. Os atores pronunciam, todos ao mesmo tempo, repetidamente, "rabarbaro rabarbaro rabarbaro...". É o som que a internet produz.








Um comentário:

  1. "Que sirva de alerta o presságio de Eco: "A internet é perigosa para o ignorante porque não filtra nada para ele. Ela só é boa para quem já conhece - e sabe onde está o conhecimento. A longo prazo, o resultado pedagógico será dramático. Veremos multidões de ignorantes usando a internet para as mais variadas bobagens." Ao que tudo indica, este futuro preconizado pelo erudito italiano já chegou, porque os imbecis e os idiotas estão soltos por aí de tal modo que se pode topar com um ou dois em qualquer lugar o tempo todo, ou seja, a morbi ignorantiam já se alastrou".

    É fato, senhor Reis. Mas,tudo tem dois lados; antes da Internet, editores e donos dos meios de comunicação divulgavam o que lhes interessavam; é por isto que levamos décadas para enterrar fraudes ufológicas, como caso Trent, Barra da Tijuca, Trindade, Vilas Boas, Varginha, entre outros - sem mencionar que a religião é apenas mais uma invenção. Não faz muito, tínhamos cinco canais de televisão, o papo de bar e rádios como meios básicos de informação. Quem dispunha de tempo e dinheiro para se deslocar a uma livraria ou fé suficiente para acreditar em revistas e jornais?
    Deveras, o homem comum ganhou voz para difundir bobagens com advento da web (e também aprender com ela), mas, ainda assim, acredito que a livre circulação de informações proporcionará uma melhor avaliação dos fatos e fenômenos que nos cercam. Abraço.

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