Obras

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terça-feira, 27 de março de 2018

Crianças brincam de roda


Respeitável público, o circo está de volta. O show (de horrores) continua porque precisa continuar. Estou falando daquilo que só existe nos miolos frágeis, vulneráveis e carentes - o ET de Varginha. Ele voltou. Estou falando de um vídeo que está circulando pelas redes sociais anunciando, para o próximo mês de Julho na cidade mineira de Varginha, mais um - mais um - encontro para discutir o famigerado natimorto caso ocorrido há mais de duas décadas! O que há de diferente agora é que se fala em novas revelações, novas testemunhas, novas descobertas, novos desdobramentos, novos documentos, novo isso, novo aquilo... De diferente mesmo só os cabelos brancos dos organizadores,  tudo o mais continua tão patético e tão deprimente que me faz evocar o poema de T. S. Eliot, "Os homens ocos" (trecho): Nós somos os homens ocos/Os homens empalhados/Uns nos outros ancorados/O elmo cheio de nada. Ai de nós/Nossas vozes dessecadas/Quando juntos sussurramos/São quietas e inexpressas/Como o vento na relva seca/Ou pés de ratos sobre cacos/Em nossa adega evaporada. Não menos patético e deprimente é o tal vídeo.

O elmo cheio de nada.
Adega evaporada.
Ai de nós.

Como, a rigor, desde 1996 - ano da ocorrência - nada mais aconteceu de relevante que mobilizasse o noticiário ou causasse alarido, então, já que comer pão velho é melhor que não comer pão nenhum, essa turba de parvos persegue incansavelmente a mesma cenoura roída dia após dia, noite após noite, ano após ano. Amadores infantis e ineptos comportando-se como crianças brincando de roda no parque, cantando surradas cantigas em velhos brinquedos enferrujados, girando e girando e girando sempre no mesmo lugar.

Sem dúvida falta a essa gente - tristes marionetes -, razão, ciência e sensibilidade, por conta, sem dúvida, de novo, de um eclipse da razão que nutre a cultura da idiotia. Aqueles delírios de uma tarde de verão seguem vivos nos elmos ocos, ocos de um vazio que não se preenche. Eu disse delírios? Não seria antes insanidade, pantomima, estupidez? Quando a imaginação se confunde com a realidade, nada detém a errante stultifera navis. Quando tambores tocam, bonecos dançam. Acho que você identificou nos negritos títulos de alguns textos deste blog. Poucas palavras às vezes são suficientes para resumir o quanto a crença é o amparo dos ignorantes, afinal, que importa o saber se a demanda é por crença?

Pés de ratos sobre cacos.
Ratos e cacos.
Ai de nós.

Os estúpidos são estúpidos porque nunca aprendem nada e porque sempre esquecem tudo. Um tolo não sabe que é tolo como tatu não sabe que é tatu. Ambos apenas ocupam um lugar na fila do abate. O caso Varginha não renasce das cinzas como a mítica fênix, mas de um cadáver insepulto, ossada pútrida e fétida que atrai moscas e catadores de carniça. Por isso, recomendo enfaticamente que se leia "O Caso Varginha" (2001), de Ubirajara Rodrigues, o único investigador com legitimidade para discutir o assunto. O resto não passa de uma súcia de apedeutas, portanto irresponsáveis e analfabetos intelectuais, uma nociva mistura de anacronia, obscurantismo e nulidade com notórios traços de psicopatia. E picaretagem. Despejando impune uma torrente de falácias e asneiras, busca, a todo custo, obsessivamente, transformar uma ficção, uma ilusão, um devaneio em verdade, fuçando nos despojos descarnados um suco qualquer que lhes satisfaça as gônadas.

Elmos cheios de cacos.
Ratos ocos empalhados.
Ai de nós.

Encerra Eliot: Assim expira o mundo/Não com uma explosão, mas com um suspiro.

Um comentário:

  1. O "causo" Varginha é o último a ser abatido, mas o tempo se encarregará disto.

    "E picaretagem. Despejando impune uma torrente de falácias e asneiras, busca, a todo custo, obsessivamente, transformar uma ficção, uma ilusão, um devaneio em verdade, fuçando nos despojos descarnados um suco qualquer que lhes satisfaça as gônadas".

    Outro texto genial e com o característico estilo franco e impiedoso, seu Reis! Como sempre, disse tudo e mais um pouco! Abraço.

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