Obras

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sexta-feira, 18 de março de 2016



O INSTINTO QUE ME MOVE!


O post anterior, Afinal, por que pesquisar “disco voador”, rendeu manifestações que gostaria de comentar, por julgá-las interessantes, começando por um colega da Argentina. Escreve ele que a frase de Elliot e a metáfora do palimpsesto foram muito boas para o ponto de vista da análise. De fato, são situações que experimentamos no cotidiano, muitas vezes sem perceber, e os exemplos a seguir ajudam a entender a coisa.

Quando você assiste pela segunda vez àquele filme que tanto gostou, ou relê um livro que te marcou de alguma forma, irá perceber sutilezas que passaram batidas da primeira vez. E por quê? Porque, neste momento, passados meses ou anos, você se tornou outra pessoa, mais amadurecida, com outras vivências, outros valores, e essa revisão do filme ou do livro lhe dará uma nova perspectiva e um novo entendimento dele próprio e do mundo. E de si mesmo. O objeto é o mesmo, porém visto agora com outros olhos, e fica a sensação de que é a primeira vez. Isso é Elliot.

Para a metáfora do palimpsesto, recorro ao teatro, à ficção científica e ao mito. Como representações que são, mostram uma "realidade" querendo falar de outra que, de algum modo, nos revela, nos desnuda. Só com perspicácia e espírito crítico somos capazes de filtrar a narrativa e decifrar a simbologia embutida. O que Lévi-Strauss diz sobre o mito vale para o teatro e para a ficção, de que o problema está em encontrar a invariante em um conjunto de códigos, em traduzir o que está expresso na linguagem deste conjunto


O impulso de conhecer



Outra participação muito interessante que despertou muito minha curiosidade para o assunto foi a de uma amiga, citando Melanie Klein, psicanalista austríaca colega de Freud: "Melanie dizia que todos nós somos dotados de um instinto epistemofílico, sem o qual nem a nossa própria existência poderia ser mantida." A saber: episteme conhecimento, ciência, e filia - atração, amor, desejo, logo, desejo pelo conhecimento. A expressão foi usada por Freud  ao considerar a existência de uma outra pulsão, designando, mais precisamente, a tendência inata da criança querer conhecer a verdade dos fatos que a rodeiam, para as quais ela não tem explicações. Freud também denominou essa pulsão como instinto do saber ou de pesquisa, mais adequado, mas ele não seguiu explorando esse rico filão. Melanie, por sua vez, estabeleceu uma correlação desse instinto com o desejo de controlar e dominar, em que o conhecimento seria um meio de controlar a ansiedade.

Como acrescentou a leitora, "provavelmente Melanie tenha razão, pois quanto mais conhecemos o meio, mais somos capazes de controlá-lo e dominá-lo. Ela colocava a infância no mesmo patamar daquele em que se inscrevia o Homem primitivo, alguma coisa como a ontogênese sendo o resumo da filogênese”. Trocando em miúdos, a raiz modela o fruto. Muito do que somos se deve ao que fomos. Devemos pensar sobre isso. 

O próximo comentário vem de um amigo de longa data, astrólogo, que alegou não ter ficado convencido dos meus argumentos por considera-los “parcos”. Em primeiro lugar, e que fique bem claro, em nenhum momento haverá aqui pregação de qualquer natureza, muito menos pretensão de convencer, doutrinar ou catequizar quem quer seja sobre qualquer assunto. A intenção explícita é diversificar as bases de reflexão por meio de outras vias de pesquisa, a partir não de um discurso opinativo e proselitismo, mas de fundamentos sólidos criteriosamente selecionados de fontes primárias. Poi isso, a bibliografia, quando houver, será sumária, de caráter meramente introdutório.

Em segundo lugar, este é um espaço que, por princípio, para não enfadar o leitor, pretende ser claro e objetivo, com prolegômenos que preparam o terreno para uma discussão posterior mais ampla e fecunda em outra arena. Especificamente neste caso, para a obra que está a caminho, onde, aí sim, ao longo de 380 páginas e tendo na retaguarda vasta e rica literatura, florescem argumentos consistentes na construção de uma tese.

Por fim, encerro com a participação de outro velho amigo, também da Argentina, que transcrevo na íntegra e no original, ondede maneira singela, traduz e sintetiza  a proposta última deste blog. Faço minhas suas palavras: La curiosidad natural del ser humano nos conduce a preguntarnos sobre los misterios, que empiezan con la vida misma y el cosmos, y a intentar develar o buscar alguna clase de respuesta. Sea ésta científica o filosófica. Luego, algunos sólo nos fascina transitar el camino de la pesquisa, cualquiera sea el objeto de la investigación. Allí nos encontramos con esos "peregrinos" de distintas tierras, con quienes compartimos las mismas. Tu sitio y las reflexiones son nuestros espacios comunes.


ZIMERMAN, D. E. Os Quatro Vínculos - amor, ódio, conhecimento,   
    reconhecimento - na Psicanálise e em Nossas Vidas. Porto Alegre. Artmed. 2010.

LÉVI-STRAUSS, C. Mito e Significado.  Lisboa. Edições 70. 1987.



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