Obras

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segunda-feira, 7 de março de 2016


Afinal, por que pesquisar “disco voador”?

Eis aí uma pergunta recorrente que ouvi muitas vezes ao longo de todos esses anos. Aliás, só eu não, muitos, quase todos os pesquisadores que um dia se lançaram nessa jornada devem tê-la ouvido. E todos devem ter dado as respostas mais diversas, cada qual dentro de um contexto todo particular. Interesses pessoais, contingências da vida, curiosidade, falta do que fazer e, em muitos casos, por terem passado pela experiência de ter visto alguma coisa, sem saber exatamente do que se tratava. Não é o meu caso. De qualquer modo, tais situações foram o gatilho para que um dia se tornassem “ufólogos”. 

Por outro lado, todos, sem exceção, acredito, devem ter sentido na carne um olhar enviesado, desconfiado, um esgar, um instante de silêncio – quase de reprovação – por parte do perguntador, como se estivesse a pensar “com tanta coisa importante para fazer na vida, esse cara vai perder tempo correndo atrás de disco voador?!” Confesse, se você não é um de “nós”, em algum momento deve ter passado pela sua cabeça algo semelhante em relação ao seu amigo, sua namorada, um colega de trabalho, seu cunhado... não se preocupe, não é uma crítica. É compreensível. Muito embora alguns adotem uma postura séria e de sincero interesse pelo assunto, o feeling de anos detecta que se trata apenas de um discreto gesto de respeito para com o pesquisador.

Ora, se pesquisar disco voador oferece farta munição para chacotas e piadinhas, se a mídia só bate à porta quando o fato pressupõe espetacularização da notícia, se o investimento em livros, viagens, participação em congressos é alto e sem retorno (financeiro), salvo exceções, por que diabos insistir nessa “coisa de malucos e alienados” se o resultado das pesquisas é matemático, isto é, igual a zero? Pois bem, presumo que a curiosidade deve estar fazendo cócegas em você para saber a minha resposta. Lá vem ela. Antes, uma nota de rodapé: enquanto por que subentende uma causa, para que implica uma finalidade,e é o que me parece muito mais importante.

Quando, no distante ano de 1971, eu tive meu primeiro contato (calma!) com a literatura sobre o tema, obviamente meu interesse foi às alturas. Literalmente. Meus olhos começaram a esquadrinhar a vastidão celeste em busca dos “discos”. Se eu acreditava na existência deles? Claro que sim, mesmo não tendo muita noção de como a coisa acontecia. Foram necessários muitos anos de estudo, muita leitura, muitos congressos, reflexões, debates, vigílias, pesquisas de campo, frustrações e decepções, muita discussão, muitos bastidores e muita encrenca para, enfim, reunir toda essa bagagem e formar um juízo bastante lúcido, amplo, agudo, profundo, sensato, crítico e objetivo, porque o assunto é extrema e ricamente complexo, que não se resolve numa conversa de bar. Muito menos no espaço deste blog, mas é o que tenho pena lançar algumas sementes. Vale a pena.


Por que raios etão pesquiso “disco voador”?

A primeira coisa que posso dizer me remete ao poeta britânico T.S. Elliot (1888-1965): O fim da busca será retornar ao ponto inicial e conhecer o lugar pela primeira vez. Entendo “fim” não como término, encerramento, mas como  perpetuum mobile do saber. Ao fazer e refazer essa trilha inúmeras vezes, senti que caminhava por uma espécie mesmo de espiral - já vira isso antes, mas os olhos eram outros, a perspectiva era diferente, o patamar de conhecimento estava um grau acima, se o considerarmos como um crescente, ou um grau  abaixo, se falarmos em profundidade.

Então, ao encaixar as peças desse quebra-cabeças – mesmo incompleto, amparado por uma constelação de verdadeiros desbravadores do pensamento e profundos conhecedores da natureza humana, de Aristóteles a Kant, de Spinoza a Nietzsche, uma imagem irrompeu fulgurante iluminando toda a minha trajetória: O “disco voador” era, e é, apenas um palimpsesto! E que palimpsesto, simplesmente perfeito! E o que há por trás dele? Quem ou o que ele oculta? Dirá essa esfinge moderna ao intrigado: Decifra-me! Reflete sobre o que vês, porque o que vês te reflete. Decifra-te! Quem tiver olhos para ver, ouvidos para ouvir, cérebro para pensar e sensibilidade para entender a chave do enigma, chegará onde cheguei. E aí, decifrou? 



2 comentários:

  1. La frase de TS Eliot y la metáfora del palimpsesto son muy buenas para entender el punto de la situación. Muy buen post. Un abrazo, Carlos!

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  2. La curiosidad natural del ser humano nos conduce a preguntarnos sobre los misterios, que empiezan con la vida misma y el cosmos, y a intentar develar o buscar alguna clase de respuesta. Sea ésta científica o filosófica. Luego, algunos sólo nos fascina transitar el camino de la pesquisa, cualquiera sea el objeto de la investigación. Allí nos encontramos con esos "peregrinos" de distintas tierras, con quienes compartimos las mismas. Tu sitio y las reflexiones son nuestros espacios comunes. ¡Congratulaciones, Carlos!

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