Obras

Obras

sábado, 17 de setembro de 2016


  Não se muda o passado, mas se aprende com ele


Abro o texto de hoje inspirado no avô dos meus filhos, nosso querido e saudoso 'vô Tito'. Caprichando no sotaque espanhol, dizia ele que No satisfechos con nuestros errrores, los ampliámos y los transmitimos a nuestros hijos. Sábias palavras. De fato, se não praticarmos a autocrítica, se não reconhecermos nossas falhas e não cumprirmos com ética nossos atos, estaremos condenados a repetir os mesmos erros, e pior, deixar às gerações futuras um saber equivocado e cada vez mais ditante de uma ortopedia corretiva.

Já disse aqui mesmo várias vezes que a história tem sido passada a limpo em todos os níveis, mas só a Ufologia não percebe, ou não quer perceber. No post passado, quando o cientista Jacques Vallée foi taxativo ao declarar que todas as tentativas de explicação do fenômeno fracassam seguidamente, e que é preciso abandonar o conceito de 'naves extraterrestres', não se pode admitir que a Ufologia seja exceção. Em seu recente livro, Wonders in the Sky, ele faz uma reinterpretação dos registros da antiguidade pela ótica da da ciência.

Foram mais de 500 casos analisados sob o olhar da isenção, e muito pouco permaneceu inexplicado. Suas considerações pedem uma reflexão: "Ao longo da história, fenômenos desconhecidos descritos como prodígios ou maravilhas celestes causaram um grande impacto nos sentidos e na imaginação dos indivíduos que os testemunharam. Cada época tem interpretado os fenômenos em seus próprios termos, muitas vezes em um contexto religioso ou político específico. As pessoas têm projetada a sua visão de mudo, seus medos, fantasias e esperanças naquilo que veem no céu, e o fazem até hoje. Embora muitos detalhes destes eventos tenham sido esquecidos ou jogados para baixo do tapete da história, a sua presença moldou a civilização humana em muitos aspectos importantes. As lições tiradas destes casos antigos podem ser aplicadas de modo útil para a ampla gama de fenômenos aéreos que ainda  e permanecem inexplicados pela ciência contemporânea. Como sempre, o itálico é meu.

Vallée conclui o comentário afirmando que "Mesmo que não queiramos admitir, tanto a história como a cultura são influenciadas por estes acontecimentos extraordinários. As histórias sobre criaturas estranhas sempre nos influenciaram de maneira imprevista. A nossa visão de mundo é uma fusão dos mitos antigos em nosso cotidiano e de novos mitos que pegamos ao longo do caminho.," Nessa linha, julgo pertinente a palavra do historiador Mircea Eliade: "O que primeiro nos chama atenção nas mitologias e folclore do 'vôo mágico' é o seu arcaísmo e a sua difusão universal.  Pode inserir aqui o tema da 'fuga mágica' entre os mais antigos motivos folclóricos; encontramo-lo por todos os lados e nos estratos mais arcaicos da cultura."

Por fim, Vallée coloca o dedo na ferida: "As lições do passado  muitas vezes são esquecidas. Um exame de cultos contemporâneos do século 20 centrados na crença em visitas extraterrestres mostra que o público moderno ainda é suscetível em acreditar nos incidentes Óvni. Mesmo nos primeiros anos deste século 21, observa-se um processo contínuo através do qual os mitos da humanidade seguem importantes como realidades sociais e políticas. Somos testemunhas e vítimas desse processo

Você tem lido muito aqui nessa mesma linha, portanto não serei repetitivo. A proposta de Vallée é pegar todos os dados que temos e levá-los aos especialistas em cada campo da ciência, cabendo a eles investigar de maneira a obter resultados consistentes e em bases científicas. Ora, se o cientista não vem a nós, vamos a eles. Pois Naus fez isso, juntou todo o inventário ufológico, botou o colo dos senhores doutores dizendo "- Expliquem!" E não é que os danados deram conta do recado? Se você ainda não leu - e recomendo que faça - prepare-se, vai exigir um esforço de compreensão, o que poderá surpreendê-lo. Talvez você não concorde com tudo que está lá, mas haverá de reconhecer que não se brincou de fazer ciência.

Não sou cientista nem especialista em coisa alguma, mas segui a bula de como praticar pesquisa séria, fazendo o que a ciência faz: estabelecer nexos de causalidade entre fenômenos, buscar a síntese (grego syn thénai - colocar junto), encontrar as conexões, o encadeamento, as correspondências.a. A ciência não é contemplativa nem divagante, não espera que as respostas caiam do céu ou brotem do chão. Ela impõe pensar, pensar e pensar, e se não for o bastante, pensar mais um pouco. É preferível ser escravo da dúvida a refém da ignorância. No primeiro caso, você tem as ferramentas para se livrar dela, no segundo, é prisioneiro cativo, no limite da estupidez.

Este tem sido meu trabalho e assim fiz em Naus. Não é continente da Ufologia ou o da Ciência que mais importa, é a ponte que se estende entre ambos Isso é fundamental você compreender: a resposta está - ou pode estar - nela, na ponte. Tenha isso em mente quando for ler o livro. Na próxima semana eu trarei mais argumentos para ajudar nas tuas reflexões.

______________

Vallée, Jacques & Aubeck, Chris. Wonders in trhe Sky, Penguin, 2010.
Eliade, Mircea. Mitos, Sonhos e Mistérios. Edições 70, 2000.
http://www.etseetc.com/2016/08/palestra-de-jacques-vallee-legendada-uma-aula-de-ufologia-seria/

Nenhum comentário:

Postar um comentário