Obras

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sábado, 10 de setembro de 2016


Um encontro improvável , um diálogo possível


O encontro mostrado nessa foto nunca aconteceu, é uma montagem artística meramente ilustrativa, mas alguém irá dizer que é um "desejo inconsciente" meu. Errado, é consciente mesmo, gostaria de um dia trocar ideias com este badalado pesquisador franco-americano, o cientista Jacques Vallée. O mais próximo que cheguei foi coordenar uma entrevista para uma revista brasileira especializada em ufologia.1

Por que trazê-lo aqui? E para quê? Primeiro, porque Vallée ainda é considerado um pesquisador de respeito dentro da comunidade ufológica, e um pensador atuante, sempre disposto a explorar novas possibilidades que satisfaçam sua inquieta curiosidade científica. Segundo, para mostrar que essa inquietude é a seiva inesgotável que conduz ao igualmente inesgotável saber. Qualquer semelhança entre nossas atitudes e pensamentos, nessa esfera, pode até ser mera coincidência, mas é também produto de mentes inquisidoras em permanente ebulição.

Naquela entrevista, quando indagado sobre seu afastamento da Ufologia, disse que ele se deu apenas das discussões públicas "porque o campo tornou-se tão confuso com ramos de ideologias conflitantes, que qualquer coisa que eu dissesse como cientista se perderia na 'confusão'." Disse também que muitos pesquisadores "seguem a mesma estratégia de trabalhar em silêncio, longe das controvérsias da mídia". E finaliza: "o quadro que continua a emergir é o de um fenômeno muito forte, que combina parâmetros físicos com efeitos psicológicos e psíquicos muito interessantes."

Vallée prega a necessidade de se manter a mente aberta perante um problema de tal magnitude: "A Ciência está baseada em medidas. O desafio é determinar qual medida é significativa e qual não é. Ao mesmo tempo, é saudável explorar novas hipóteses. Após 50 anos [referindo-se ao início da "era moderna"- 1947], é óbvio que as explicações simples para o fenômeno falharam todas." E sua fala sobe o tom quando assinala que "nós temos que amadurecer e abandonar o conceito de espaçonaves como era visto nos filmes de ficção científica de 1950" (o destaque é para chamar enfaticamente sua atenção). Seu discurso só não repercute mais porque a indigência mental dentro da ufologia é assustadora.

Pouco mais de uma década se passou desde então e, mesmo recluso, não deixou de lado suas pesquisas e reflexões. Em entrevista recente, ele reforça que a responsabilidade do estudo compete à comunidade científica, com desapego e isenção: "Deve haver um esforço concentrado, sóbrio, estruturado, com ampla participação das partes interessadas. Precisamos levar os dados que temos aos especialistas, para que possam trabalhar e obter resultados mais consistentes. A ciência só funciona e só avança quando há debate e diferença de interpretação". Você já leu algo parecido aqui mesmo.

Vallée relata os rumos do estudo que o consumiu por 12 anos no livro Wonders in the Sky (reeditado a cores em 2016): uma retrospectiva crítica de documentos, registros, arte e textos antigos, sugerindo que a presença do fenômeno remontaria a tempos imemoriais. Perguntei a mim mesmo, ressabiado: Däniken à francesa? Não exatamente, mas um estudo comparativo entre e os 'prodígios celestes' do passado e as observações contemporâneas.

Nessa obra, Vallée faz uma releitura de seu Passport to Magonia - em que analisa o fenômeno no âmbito social e cultural -, analisando os casos de ontem considerados inexplicáveis, pelas lentes interpretativas dos contextos de cada um pelo crivo da ciência e do saber acumulado. Para muitos desses casos, as explicações são naturais, enquanto outros - uma porcentagem irrisória - permanecem em aberto. Mesmo sem respostas e sem conclusões, mas também sem frustrações, Vallée segue estudando: "Nós acreditamos que é apenas o começo, e isso é fascinante".

Vallée e eu nunca nos encontramos, nunca conversamos, apesar de ele ter estado no Brasil diversas vezes. Trocamos curtos e-mails em 2009 e 2011. Acompanho seu trabalho quando algum bom amigo me notifica de algo novo na praça. Sinto-me afinado com sua forma de pensar, seu olhar crítico e discernimento, o que não me impede de divergir em várias questões relevantes. Nosso trabalho conversa de algum modo, andam juntos, e ainda que seguindo rotas paralelas de mesmo sentido, lá longe, lá na linha do horizonte, eles parecem se encontrar. Tomara. 

Para manter ou despertar seu interesse, mas sobretudo para trazer dados às suas reflexões, no próximo post pinçarei alguns comentários extraídos de seu livro, e trechos de outras obras pertinentes às "maravilhas no céu" que tanto fascinaram os antigos. Discos voadores? A conclusão é sua.

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¹ Revista UFO, nº 100, jungo 2004.
Vallée, Jacques & Aubeck, Chris, Wonders in the Sky, Penguim, 2009.
https://lvsitania.wordpress.com/2010/10/28/sleuths-estudam-ovnis-na-antiguidade/
http://www.etseetc.com/2016/08/palestra-de-jacques-vallee-legendada-uma-aula-de-ufologia-seria/





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