Obras

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sábado, 22 de outubro de 2016

O candeeiro alumia dois caminhos

carlosalbertoreis51@gmail.com



Lembra quando eu disse semanas atrás que, caso esteja em dúvida sobre qual caminho escolher - fantasia ou realidade, você deveria perguntar ao gato de Alice? Você sabe qual foi a pergunta que ela fez e o que o gato respondeu? Sêneca disse a mesma coisa com outras palavras e o recado é o mesmo. Já notou que você faz perguntas o tempo todo, todos os dias, e não há gato algum para te responder? É claro que estou falando de filosofia, que está presente em nossas vidas o tempo todo e em toda a parte. As escolhas que fazemos não dizem quem somos, mas o que somos. Já pensou nisso?

Mas, e as crianças, mentes e personalidades em formação, sujeitas a toda espécie de influências, exemplos, indicativos, caprichos, regras e ditames, tentando ser elas mesmas sem, contudo, saber exatamente qual o próximo passo? É preciso uma bússola bem calibrada apontando o norte corretamente. Calma, não quero dar uma de educador, pedagogo, professor, nada disso, minha bagagem se resume a quatro filhos e oito netos. O que estou tentando dizer é que a nossa responsabilidade na hora de ensinar certo é muito maior do que imaginamos. Ensino, do grego en signo, "deixar uma marca para alguém". A boa cartilha recomenda que devemos ser um farol, expor os prós e os contras das escolhas que têm a fazer, e deixar a critério delas o voto final. Dito isso, vamos ao que interessa.

Você lembra também que usei mais recentemente a história da filha do Rubem Alves como exemplo de uma mente bem encaminhada. Suponho que, sendo filha de quem é, seu ambiente educacional e familiar preparou sua consciência com a lucidez necessária para compreender certos mistérios da vida. É óbvio também que ela era potencialmente apta a receber tais ensinamentos. Não é a resposta o aspecto o que mais importa, mas o que está além das palavras, a essência do pensamento, o fundamento filosófico do que está em jogo. 

Quantas crianças podem dar a mesma resposta, perceber a sutileza da questão? Como estamos formando essa geração que está chegando? Estamos preparados? Você se sente pronto a oferecer um caminho razoavelmente iluminado a quem vem por aí? Seu capital filosófico dá conta dos desafios que te esperam a cada amanhecer? Reparou quantas perguntas só neste parágrafo? 

E o que você acha que estou tentando mostrar neste blog? Chegamos ao ponto.

Ao longo destes meses, a cada semana, me esforço para trazer um conteúdo de qualidade, novos campos de reflexão, autores, obras, estudos e ensaios que ampliem os horizontes do conhecimento para balizar seus questionamentos. Aqui desfilam nomes consagrados em quase todas as áreas, e para quê? Para que você se abasteça com o que há de melhor, para refletir com sabedoria, achar seu caminho sem precisar consultar o gato de Alice. Estou praticamente te levando pela mão, portando um candeeiro.

Não me julgue pretensioso e arrogante, dono da verdade. Não sou. Posso estar errado e não tem nenhum problema reconhecer isso quando e se for o caso, mas não nego que me sinto absolutamente confiante do que estou fazendo. Não tenho mais tempo a perder com tentativa e erro. De onde vem tanta segurança? Dado o polimento permanente nas lentes, o ajuste fino e a precisão dos instrumentos, a excelência da companhia e com a rota seguindo o mapa, a chance de naufrágio é quase zero.

Eu te levo pela mão, mas você pode soltá-la quando bem quiser.

Vejo a Filosofia como o eixo central por onde orbitam todas as outras matérias; ela é a cellula mater, o mais belo e puro pensamento que o homem foi capaz de produzir, razão pela qual tem sido a minha bússola, e penso que possa ser a sua também. Filia Sofia, do grego - amor pela verdade, paixão pelo saber. John Locke, filósofo inglês do século XVII, defendia assim esse princípio: "Um sinal infalível de amor à verdade é não considerar nenhuma proposição com convicção maior do que a autorizada pelas provas que a fundamenta." O título é referência a antigo provérbio português: “Candeia [ou candeeiro] que vai adiante alumia duas vezes; o caminho de quem a segura e o de quem vem atrás”. Semana que vem vamos filosofar mais um pouco.

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LOCKE, John. Ensaio sobre o Entendimento Humano. Martins Fontes, 2012

2 comentários:

  1. Adorei a explanação!
    A filosofia é sensata e nos leva ao encontro do saber. Fazendo-nos desejar a busca do bem, do bom e do belo.

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  2. Este comentário foi removido pelo autor.

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