Obras

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sexta-feira, 24 de março de 2017

Longevidade não é sinal de inteligência




O fato virou manchete no mundo: "Cientistas detectam sinal de rádio que pode vir de uma civilização alienígena". Já abordei este assunto mais de uma vez, mas quando ele volta à baila, as pessoas me fazem muitas perguntas (geralmente as mesmas). A fonte da notícia foi o SETI - Search for Extraterrestrial Intelligence que, afinal, para receber as polpudas verbas de pesquisa, precisa mostrar serviço e não só, apresentar resultados. O sinal captado vem de uma estrela localizada na chamada "zona habitável", a 95 anos-luz e idade estimada em 6,5 bilhões de anos. Talvez já nem exista mais, nem o planeta que a orbita com a hipotética civilização que poderia ser a responsável pelo sinal. Mas não é esse o ponto que quero comentar.

Uma estrela emitir um sinal tão potente e por tanto tempo é normal, porém, crer que uma civilização, por mais antiga e avançada, também tenha desenvolvido tecnologia semelhante à nossa não é lá sinal de muita inteligência. Só falta os deslumbrados cientistas do SETI ou de outros centros acharem que os aliens estão enviando uma mensagem em código Morse! Se for o caso, sugiro internação imediata. Cada vez que uma notícia dessas é divulgada e provoca tal reação, mais reforça a necessidade do ser humano de companhia cósmica e insistência obsessiva e alucinada nessa busca. Apesar de o retrospecto ser de total frustração, ele não desistirá jamais.

Alguns poderão perguntar por que não pesquisar a vida extraterrestre inteligente, mas eu não tenho a menor vontade de responder, de tão óbvio. Ou melhor, respondo com outra pergunta: Por que não enfiar a parafernália de instrumentos num formigueiro para tentar decifrar a linguagem das sociedades formicídeas? Não seria formidável descobrir o que as incansáveis formiguinhas 'conversam' depois do jantar, já que a espécie 
é considerada inteligente? É mais perto, mas fácil, seguramente mais barato, com ampla variedade de insetos himenópteros para estudar e a vantagem de acompanhamento permanente. A chance de um resultado positivo é zero. O princípio é o mesmo.

Não importam classe social, credo, cultura, profissão ou curriculum, todos querem dividir o espaço com mais alguém, a qualquer preço. Quanto mais o universo se agiganta aos nossos olhos, mais improvável encontrar parceiros por aí. O princípio é o mesmo: Quanto maior o palheiro, mais difícil achar a agulha. Quanto mais fundo o rio, mais difícil pescar o peixe. A solidão é insuportável, daí, qualquer 'barulhinho' que venha de fora deixa a turma excitada. Nem vou comentar a indisfarçável vaidade profissional e intelectual daquele que intenta ser o primeiro a captar um sinal inteligente vindo do espaço exterior. Nesse momento o ego chega literalmente às estrelas.

Em 1961 surgiu a famosa Fórmula de Drake (ou Equação de Green Bank) que buscava encontrar um número razoável de planetas que pudessem abrigar uma civilização tecnologicamente comunicativa. Criada pelo astrônomo Frank Drake, obviamente ela não vingou, apesar dos esforços de uma equipe de respeito. Como não se pode responder às premissas fundamentais "Que tipo de vida estamos procurando?"e "O que se entende por inteligente?" a equação se dissolve.

Mas não é o que pensam os apressadinhos desinformados e tolos diplomados, que se agitam com a possibilidade quase tão real, quase tão próxima, quase tão crível de que alguém bate à porta. Cuidado meninos, segurem a sanha. Os mais comedidos cientistas do SETI,  mais fincados em solo firme e mais sensatos afirmam, em tom quase tão sério que, se houver inteligências por aí prontas a nos visitar, com certeza virão para assumir o controle do mundo. Não há nada mais estúpido que o Welcome space brothers. Talvez seja prudente não abrir a porta.
 

2 comentários:

  1. Uma lógica quase irrefutável... Mto bom!

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  2. "Não importam classe social, credo, cultura, profissão ou curriculum, todos querem dividir o espaço com mais alguém, a qualquer preço. Quanto mais o universo se agiganta aos nossos olhos, mais improvável encontrar parceiros por aí. O princípio é o mesmo: Quanto maior o palheiro, mais difícil achar a agulha. Quanto mais fundo o rio, mais difícil pescar o peixe".

    Brilhante, senhor Reis! Abraço.

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