Obras

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sexta-feira, 17 de março de 2017

Quando a imaginação atravessa a realidade


Continuando o tema da sci-fi, hoje resolvi economizar nas palavras e deixar que um pequeno pacote de imagens fale por si, ilustrações criadas para as novelas de ficção científica décadas antes da chamada era moderna dos discos voadores - 1947. Nunca houve uma "era antiga". É evidente que o formato "disco" das então chamadas naves interplanetárias dormitava no inconsciente, no imaginário, esperando o momento de se deslocar e atravessar a realidade cotidiana. Era uma questão de tempo.

Observe, consulte a imageria ufológica e verá que as semelhanças não são meras coincidências; há muito mais em jogo, há toda uma estrutura dinâmica, semântica, estética, com linguagem e gramática próprias, material que enriquece as ciências sociais e humanas, a história, a cultura, o imaginário, a mitologia e a religiãoA ufotopia é o sorvedouro dos elementos da ficção num processo mimético de ideias e conceitos. É uma história que se escreve por mãos alheias e cenários emprestados. 


1909 - Le vainqueurs de l’espace. Arnould Galopin. Paris.
Cortesia Yven Bosson Collection; agendemartienne.fr



1926 - Amazing Stories. Capa: Frank R. Paul. amazingstoriesmag.com



1936 - Wonder Stories. Capa: Frank R. Paul. amazingsotiresmag.com




1938 - AstoundingStories. www.pulpartists.com/Wesso.html



1940 - Thrilling Wonder Stories. Capa: Frank R. Paul. Gallery Frank R. Paul’s Artwork. frankwu.com



1946 - Amazing Stories. amazingstoriesmag.com



Vale destacar o que diz o sociólogo Jean-Bruno Renard, que vê o fenômeno Óvni como o ponto culminante da simbiose entre os temas de ficção científica e as crenças pararreligiosas. Já para o professor de Teologia da Universidade Göttingem, Andreas Grünschloß, "Sem dúvida, um importante atrativo das crenças em UFOs é a sua capacidade de sintetizar elementos de tradições esotéricas, espirituais, teosóficas e cristãs, para reconciliá-las com a ciência, a tecnologia espacial e a cosmologia moderna." Eu tenho dito que a ficção é a porta de entrada da ufologia, e a religião, a de saída. Daí porque estou adotando a expressão ufotopia, muito mais apropriada.

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Biago D'Angelo. “Deuses Invisíveis: A ficção científica e os mitos cosmogónicos
(Lem, Lessing e Le Guin)”. E-topia: Revista Electrónica de Estudos sobre a Utopia,       
nº 9, Edição Temática “Ano 2100”. Porto. 2008.
Umberto Eco.  Sobre os Espelhos e Outros Ensaios. Nova Fronteira, 1989.
Abdres Grünscholß. “Quando entramos na nave espacial do meu pai - Esperanças
cargoísticas e cosmologias milenaristas nos novos movimentos religiosos de UFOs”. 
Trad. Paulo Gonçalves Silva Filho. Revista de Estudos da Religião. PUC/SP. nº 3, 2002.
Patrick Legros et al. Sociologia do ImaginárioSulinas. 2007.
Alice F. Martins. Saudades do Futuro: O cinema de ficção científica como   
expressão do imaginário social e do devir, Ed. UnB. 2013.
Bertrand Méheust. Science-Fiction et Soucoupes Volantes. Terre de Brume, 2008.
Carlos Reis. Naus da Ilusão. Multifoco, 2016.
Ieda Tucherman. “A ficção científica como narrativa do mundo contemporâneo”.
www.comciencia.br/reportagens/2004/10/09.html.

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