Obras

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sexta-feira, 31 de julho de 2020




O MINISTÉRIO DO ATAÚDE AVERTE
Eu havia decidido que o post da semana passada seria o último a tratar de política no contexto do desastre que assola o mundo e em especial o Brasil, mas também não me sentia nem um pouco confortável em manter silêncio quando o caos desfila na nossa cara. Estou falando especificamente da Saúde, da sua, da minha, da saúde do país, física e mental. No caso do governo brasileiro, não há a menor justificativa para a quantidade descomunal de desacertos. Ou há, dependendo de como se olha a questão.

A verba destinada ao atendimento à população é ilimitada, porém, a política do avestruz no Ministério do Ataíde dificultou, retardou e interrompeu a compra de equipamentos, dificulta e/ou retarda a aquisição de kits de testagem, dificulta e/ou retarda a distribuição de verba às Secretarias Estaduais para o mesmo fim, dificulta e/ou retarda o repasse financeiro às empresas para evitar a quebradeira. E não evita, claro, porque a incapacidade de raciocinar retarda ou impede qualquer ação, tanto que nem dá satisfação do que está fazendo porque, claro, não está fazendo nada. Quando faz, faz a porcaria que aí está. Não é só na Saúde, o processo de desmantelamento é total em todas as áreas - Educação, Cultura, Meio Ambiente, Ciência... Mas tem mais.

Esse governo dificulta e/ou retarda a liberação do auxílio emergencial aos necessitados, não providencia a compra de anestésicos e outros insumos essenciais ao atendimento hospitalar, e, não satisfeito com tanta palermice e negligência, mandou produzir, em escala planetária, um medicamento comprovadamente inócuo e não recomendado, só para atender a sanha tresloucada do aparvalhado chefe. A paralisia mental, a negação dogmática aos estudos científicos e a recusa doentia em reconhecer a gravidade da situação desde o princípio, foram determinantes para escancarar a gestão homicida e a malversação dos recursos. Tarde demais para estancar a hemorragia de mortes, mas não para punir os irresponsáveis. E ela virá. Desta vez, não é só a História que irá julgar o ministro-boneco e seu destrambelhado ventríloquo. Ambos estarão sujeitos às penalidades do Tribunal Penal Internacional: "Privação do acesso a alimentos ou medicamentos".¹ 

Quanto ao arrevesado e frouxo ministro fantasma não médico, por si uma aberração, juristas afirmam que já há fundamentos suficientes para um julgamento técnico: a inação à frente do ministério, ou seja, omissão; os atos inexplicavelmente tardios, refletidos pelo silêncio, e o mais grave, os atos contrários ao regramento determinado pelos órgãos internacionais de saúde e de direito aplicado à saúde, caracterizando incompetência, desinteligência, negação deliberada sistemática, irresponsabilidade. O povo, já todo estropiado, infectado ou não, tenta sobreviver à realidade e à avalanche de desmandos, sem dinheiro, assistência decente, testagem, equipamentos básicos e sem perspectiva, por culpa de uma tropa de fracassados que vive chafurdando no fundo do poço. 

O meio científico brasileiro é reconhecido e respeitado internacionalmente pela sua competência e seriedade, mas não pelas nossas prepotentes autoridades. Julgando-se superiores e bem informadas, tomam medidas criminosamente inversas às evidências, advertências e orientações técnicas. Ainda temos muito a aprender sobre a atuação do vírus, meios de transmissão, período de incubação, reinfecção, quadro sintomático... São muitos estudos em andamento, todo dia alguma nova pesquisa revela dados que reorientam as diretrizes. Entretanto, para alguns, nada disso tem importância. Essa é a assinatura do cínico desprezível, o "patriota": E daí, todo mundo vai morrer um dia. Cuidado, patriota, a próxima vítima pode ser você.

Aliás, não foi esse mesmo patriota que se achando doutor de coisa alguma, declarou que a tal "gripezinha" não mataria mais do que "umas 800" pessoas? Ele foi avisado que passamos de dois milhões de infectados e 100 mil mortos, e que os números podem dobrar até o fim do ano? Curiosamente, não foi esse mesmo patriota que, ao ser testado positivo com o vírus, correu para dentro de casa, tomou uma droga qualquer, botou máscara pra se proteger? Proteger-se por que, patriota, se vamos todos morrer um dia? É assim mesmo, quando a realidade bate à porta, tem que ter tutano para abrir, mas o patriota não sabe o que é tutano.

Esse governo tem a obrigação moral de custear os testes (verba ilimitada, lembre-se); deve, também, obrigar a que os planos de saúde assumam esse encargo, e não deixar que o cidadão pague pela sua inépcia. Não é só a população que sucumbe com essa política do avestruz, o governo também. O problema é que a estrutiocultura* é muito forte no altiplano central e não há indícios de que a espécie esteja em extinção, pelo contrário, ela se multiplica.




* Estrutiocultura: latim strutiosavestruz. A semelhança com stultus - estúpido, não deve ser coincidência.

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