Obras

Obras

sábado, 4 de junho de 2016


Viagem no tempo só na ilha da fantasia


O tema desta semana está dividido em duas partes: a primeira trata da total impossibilidade de viagem no tempo, e a segunda, que o tempo, em certo sentido, não existe. Você deve estar pensando como assim, o tempo não existe, esse cara pirou! Calma, lembre-se, esta é uma janela de reflexão, não de piração.

Nada de física, mecânica quântica, relatividade e espaço-tempo; nada de divisão histórico-geológica do tempo conforme Braudel, nada de Einstein, Hawking ou qualquer outro gênio da espécie. Também não vou discorrer sobre concepções religiosas dos doutores da Igreja. Vou, tão somente, pensar livremente a partir da lógica e do racionalismo filosófico, afinal, "livre pensar é só pensar" como costumava dizer Millôr Fernandes. Melhor assim, pensar livre de réguas e dogmas cerceadores, imperativos e doutrinários.

Obviamente, passo longe da Ufologia e seus delírios lisérgicos de que os discos, com sua 'avançada tecnologia', fazem longas travessias interestelares através dos famigerados buracos negros, estilingues gravitacionais, janelas dimensionais ou túneis temporais. Isso sim é muita piração para o meu gosto, assim como também é inútil debater sobre a Teoria das Cordas, os universos paralelos ou os Buracos de Minhoca (Pontes de Einstein-Rose), meras especulações, conjecturas e devaneios que não se mostram minimamente aplicáveis. Quem é do ramo sabe bem disso.

Imaginemos, só parta ilustrar, que você entre numa 'máquina do tempo', agende uma data no passado (ou futuro) e zás! Lá está você na sua festa de aniversário de cinco anos, com os dedos lambuzados de brigadeiro apagando velinhas. Ou, no sentido inverso, em estado senil e terminal num leito de hospital. Acha mesmo possível tal cenário? Não lhe parece por demais absurdo, no estrito sentido da razão? É uma boa história para Hollywood, não para a vida real.

Pois é assim que a maioria das pessoas imagina uma viagem no tempo. Ainda que hipoteticamente fosse possível, o que aconteceria se você chegasse antes de nascer? Ou o que garante que você irá se encontrar com você no futuro caso tenha morrido durante a viagem? Certamente a engenhoca iria irromper vazia lá seja onde for, porque você terá sido sugado para o vácuo absoluto. Ou ainda, se a máquina "pifar" no curso da viagem? Bem, nesse caso, você ficará vagando congelado por todo o sempre na singularidade do espaço-tempo.

O exemplo dado foi deliberadamente pobre, infantil até, para mostrar que, se com essa concepção rudimentar a viabilidade da viagem é zero, quanto mais complexa for [a concepção] mais impossível se torna [a viagem]. Será sempre um delicioso exercício ficcional, só isso, mais nada. Qualquer argumento que pretenda ter um suporte teórico sólido, pode ter certeza, é tão sólido quanto um castelo de cartas.

Existem formas mais simpáticas de se viajar no tempo: olhe para o céu estrelado e lá está o passado, milhões de anos atrás. Mergulhe na memória e se veja comemorando seus cinco anos. Olhe para sua filha, hoje adulta, e seus olhos continuarão vendo aquela linda garotinha de tranças no seu primeiro dia de escola. De todo modo será, sempre, uma viagem virtual. Talvez você queira falar sobre os videntes, profetas e oráculos, que 'preveem' o futuro ou 'conhecem' o passado. Sobre esses mercadores de ilusão falarei qualquer dia destes.

Na próxima semana vou tratar sobre o tempo propriamente dito, ainda sob o olhar da filosofia porque, afinal, ela é a mãe de todo o saber. Se o tempo não existe, a viagem nele também não. Mas vou viajar no tempo e antecipar alguns tópicos. Que tal pensar que o tempo não passa, mas que ele é estático? Quando ainda não havia nada, havia tempo? Se eternidade é o tempo sem fim, ele teve um começo? E o tempo do sonho, que tempo é? 

_________________

HAWKING, Stephen. Uma Nova História do Tempo. PocketOuro. 2008.
BRAUDEL, Fernand. Escritos Sobre a História. Perspectiva. 1992.







2 comentários:

  1. Apesar de ficção... O filme interestelar trata de forma bem racional o tema... Incentiva a reflexão assim como o texto...Mto bom

    ResponderExcluir
  2. Apesar de ficção... O filme interestelar trata de forma bem racional o tema... Incentiva a reflexão assim como o texto...Mto bom

    ResponderExcluir