Obras

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sábado, 10 de dezembro de 2016


Jogo intelectual não tem perdedor



Como informei em postagem anterior, um leitor havia proposto debater por e-mail, e isso já começou. Eu disse também que traria os aspectos mais relevantes para você acompanhar e assim, quem sabe, seguir o exemplo e se manifestar em linha direta, com privacidade. A conversa de hoje já estava pronta quando ele fez a tréplica das minhas respostas e acrescentou novos itens, que serão comentados na próxima semana. Está ficando interessante.

Antes de apresentar suas dúvidas, ele parte do princípio de que existem pessoas muito bem intencionadas no meio ufológico, que pecam apenas pela falta de informações mais precisas, estudos mais aprofundados, falta de referências confiáveis, vícios próprios de crenças, etc. Tenho dúvidas. Informação é o que não falta, está na ponta dos dedos; aprofundar os estudos depende só de disciplina, dedicação e vontade. Encontrar a referência confiável é questão de discernimento, experiência, diálogo, critério. Já os 'vícios próprios da crença', ah. os vícios da crença, isso é indiscutível: quanto mais se crê no objeto da fé, mais difícil reconhecer os vícios e mais ainda libertar-se deles. Quem está realmente engajado num estudo sério de largo espectro se retirou de cena, ao menos da cena pública, para conduzir seus trabalhos fora do 'castelo', concentrado em rotas mais produtivas. Eu não sou o único exemplo nem essa postura é nova. Lembra quando falei de autonomia semana passada? Pois então...

Meu interlocutor comenta que a ufologia brasileira é pré-conceituosa, por considerar os discos voadores naves extraterrestres. Depois, diz que uma boa parte dos casos reportados podem ser explicados com graus variados de conhecimento científico (ótica, astronomia, meteorologia, aeronáutica, etc). Por fim, indaga minha posição sobre a totalidade dos casos, descartados os que têm uma boa explicação (erros de avaliação, má fé, alucinações, fenômenos naturais raros, etc.). Para ele, portanto, restaria uma fração de situações que fazem do fenômeno Óvni uma realidade. O que ele levanta é a origem dessa realidade. As respostas dadas estão aqui um pouco mais ampliadas e detalhadas.

Sim, esse foi o erro fundador fatal da ufologia - permitir que amadores entusiastas pré-julgassem um acontecimento com explicações para algo que carecia de uma análise multidisciplinar ampla, saber técnico e científico específico e outros procedimentos. Jogaram no ventilador o que achavam que o fenômeno era e agora temos que ficar recolhendo os destroços. As razões para essa conduta desastrada e desastrosa têm sido exaustivamente dissecadas aqui. 

O segundo ponto é que não é "uma boa parte" de casos relatados que tem explicação, mas algo próximo a 99% que pode ser naturalmente esclarecido. Para o 1% que ficou sem solução faltam dados e informações que consubstanciem uma resposta satisfatória e definitiva. Vale dizer que essa inconclusão se refere no mais das vezes à casuística de décadas atrás, apesar de muito já ter sido desmascarada. Os eventos mais recentes não resistem ao rigor de uma análise crítica severa, por isso já não se noticiam mais tantos "discos voadores" como antigamente. A fonte está secando.

Sobre a terceira e última questão, reitero que o Óvni, como fenômeno, é real, sem dúvida, porém, qual é a sua natureza? Essa reflexão me levou a escrever Reflexões, com o perdão da redundância. Em certo sentido, ele se insere numa dimensão mítica, uma realidade imaginária - mas atenção, cuidado com essa interpretação, porque estou simplificando ao máximo o que é de uma complexidade colossal, porque há um longo caminho pela frente. Aliás, ninguém disse que seria curto. Nem fácil. Meus estudos indicam que a estrutura do fenômeno tem semelhança especular com a dos mitos, uma consanguinidade manifesta, ambas com a mesma estrutura religiosa do pensamento. Então ele é um mito? Eu diria que sim. O elevado grau de confiabilidade e densidade do conteúdo das fontes, a seriedade, a isenção, a intensidade, o comprometimento e as vigorosas conexões no itinerário, nos entreatos e nas entrelinhas da pesquisa parecem me dar razão. Assim, Reflexões se mostra um balão de ensaio bem encaminhado. 

O amigo leitor informa que é só começou e fará novos 'lances', sugerindo um xadrez ufológico. Não sou enxadrista mas sei jogar, e em se tratando de um jogo intelectual desse porte e o alto nível de quem está do outro lado do tabuleiro, aguardo o que virá com grande expectativa. Não importa o resultado, só temos a ganhar porque, pelo que depreendi, ninguém está interessado em dar xeque-mate. Debater nem sempre significa contestar, confrontar, mas antes, esclarecer, aprender. Semana que vem continuamos esse papo.

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