Obras

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sexta-feira, 30 de dezembro de 2016



Balde de água fria no entusiasmo dos renitentes


É praticamente impossível levar adiante uma conversa sobre discos voadores sem que alguém levante a eterna questão dos "milhares de relatos, fotos e filmes que...", ou que os "depoimentos de militares e cientistas não podem ser contestados...", que "as evidências físicas são indiscutíveis", argumentos considerados "provas definitivas" da realidade destes veículos. Vou tentar dar uma esfriada nesse calor todo usando de suas próprias afirmações, quem sabe assim dão um jeito nessa sanha febril (duvido!).

Em primeiro lugar, nenhum testemunho é inteiramente confiável, por mais que diga a verdade. Do Papa ao frentista, do Ministro da Defesa ao balconista, toda palavra tem seu valor, todos devem ser ouvidos com respeito, mas não é confiável por uma série de motivos. Sou obrigado a ser repetitivo ao dizer que todos estão sujeitos a enganos, erros de interpretação por falta de conhecimento da matéria, distorções da memória, mescla de imagens oníricas com manifestações do inconsciente e do imaginário coletivo e outras tantas coisas. Porém, como diz um leitor, ainda há um 'resíduo' que não se enquadra em nenhuma dessas categorias. Ele tem razão, e é dessa sobra que vamos falar agora.

O percentual estimado de casos de explicação 'inquestionável', isto é, que se trata de "discos voadores sem sombra de dúvida" fica perto de 1%. Parece pouco, mas é significativo. É um número simbólico, apenas para representar a desproporção dos casos esclarecidos daqueles que se supõe serem autênticos. Então, vamos explorar essa possibilidade. Imaginemos esse 1% algo em torno de 200 mil casos registrados ao redor do mundo na "era moderna". As fotos e os relatos se referem a aparelhos de diferentes formatos sugerindo procedências diversas. Os alienígenas se mostram com variados figurinosSe todos forem verdadeiros então temos, a priori, igual número de civilizações nos visitando, certo? Por si só esse argumento seria suficiente para detonar com a casuística. 

Bem, como parece exagero até para o mais otimista, vamos reduzir pela metade - 100 mil casos/civilizações. Você dirá "- não, é muita coisa, cada um deles deve nos visitar pelo menos umas cem vezes". Um despropósito, mas então temos mil civilizações, todas visitando a Terra ao mesmo tempo. Tem cabimento tamanho absurdo? Todos os seres com a mesma conformação humanoide, todos com o mesmo objetivo de 'proteger' a Terra, todos encontrando alguma forma de se comunicar, seja no idioma local (!) ou por telepatia, que pode ser no idioma do receptor. Pelo menos a folclórica frase "Leve-me ao seu líder" nunca foi registrada porque, se fosse, a piada estaria completa, mas que tudo isso faz parte da fantasia, faz.

Se aceitarmos esse "1%" como casos reais de extraterrestres, então nada nos impede de acreditar numa legião de criaturas extraordinárias, lendárias, folclóricas, que fazem parte do tecido imaginário das mitologias - fadas, elfos, anjos, duendes, sílfides, ninfas, sereias, íncubos e súcubos; fantasmas, espíritos, centauros, gárgulas, unicórnios, bruxas, demônios, saci Pererê, boitatá, mula-sem-cabeça.... E assim jamais nos veremos livres do 'pensamento mágico' dos ancestrais que inclui cristais, oráculos, talismãs, amuletos, rituais, rezas, simpatias... 



Se o raciocínio estiver correto, existem cerca de mil planetas cujos habitantes - atenção agora - desenvolveram tecnologia, cultura, linguagem, habilidades, inteligência, consciência, atitudes, biotipo, hábitos e costumes em tudo e por tudo semelhantes ao nosso mundo! É inadmissível, pela lógica mais rudimentar, que existam seres tão iguais a nós! Por que não são aracnoides tricéfalos urrantes? Invertebrados gosmentos cuspidores de gases fétidos? Por que sua aparência tem que ser necessariamente antropomórficas? Porque precisamos que sejam assim, nós os criamos assim, "à nossa imagem e semelhança". Entendeu?

Cheguei a ouvir certa vez que eles têm um deus, e vivem numa sociedade democrática de estado de direito. Jamais vi tamanha aberração numa única frase. Ouvi também que estão 'preocupados' com nossa potencial aniquilação atômica porque isso afetaria o 'equilíbrio' do universo. Que a gente se exploda, tudo bem, mas deixem o planeta intacto. Que equilíbrio? Estamos em meio ao maior caos com galáxias se trombando, estrelas implodindo e explodindo, buracos negros sugando tudo à sua volta, corpos gigantescos erráticos em rotas de colisão uns com os outros! Você crê realmente que existam mil povos por aí que nos visitam há "milhares" de anos, como querem os ufólogos? Quer baixar para 500 nações estelares? 100? 50? 5? Se imaginar uma só já é quase um delírio, mais que isso é devaneio alucinogênico incurável.

Mas alguém irá falar das tais evidências materiais - ecos de radar, perseguições em voo, lesões físicas em testemunhas próximas, panes elétricas, marcas de pouso, os estúpidos agroglifos, mensagens mediúnicas, etc. Nenhuma destas ocorrências sequer deveria ser chamada 'evidência'. pois não passam de anomalias que uma investigação séria não possa explicar. O mesmo vale para fotografias e filmes, que não resistem a uma boa análise técnica. Ainda que não se possa identificar uma imagem como algo conhecido, isso não dá direito a sair por aí trombeteando tratar-se de "disco voador". A investigação deverá prosseguir at;e esgotar todas as alternativas. A intempestividade é o cadafalso do ingênuo. Se não for ingenuidade, é má-fé mesmo.

A atitude mais comum nessas ocasiões é o escapismo tolo e tosco - o defensor da causa Óvni considerá-lo "além da nossa compreensão", ou "a ciência não explica porque não está preparada" ou que o fenômeno situa-se na "esfera do transcendente". Falácias com tons de imbecilismo. É uma saída tão patética quanto desonesta de quem não quer perder tempo 'explicando o inexplicado', porque não tem explicação a dar. As respostas só estão disponíveis àqueles que se propõem a perguntar. Quem faz muitas perguntas pode parecer um idiota, mas quem não faz nenhuma, esse é um idiota. Os ufólogos nunca fizeram. Quem fez já desembarcou. A ufologia é uma nave à deriva em um mar de conhecimento.

3 comentários:

  1. "A investigação deverá prosseguir até esgotar todas as alternativas. A intempestividade é o cadafalso do ingênuo. Se não for ingenuidade, é má-fé mesmo.

    "A atitude mais comum nessas ocasiões é o escapismo tolo e tosco - o defensor da causa Óvni considerá-lo "além da nossa compreensão", ou "a ciência não explica porque não está preparada" ou que o fenômeno situa-se na "esfera do transcendente". Falácias com tons de imbecilismo. É uma saída tão patética quanto desonesta de quem não quer perder tempo 'explicando o inexplicado', porque não tem explicação a dar. As respostas só estão disponíveis àqueles que se propõem a perguntar. Quem faz muitas perguntas pode parecer um idiota, mas quem não faz nenhuma, esse é um idiota. Os ufólogos nunca fizeram. Quem fez já desembarcou. A ufologia é uma nave à deriva em um mar de conhecimento".

    Como sempre, um magnífico texto, sr. Reis! Finalmente, a humanidade tem todos os elementos para desembarcar de naus condenadas, como o cristianismo e a ufologia; nestas esferas, doravante, já se delineiam os principais atores: os impostores e os que se deixam enganar.
    Abraço.

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  2. Mais um texto inconteste! Pena que, como sempre, desagrada a falange dos I want to believe!

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  3. Prezado Carlos Reis, não sou ufólogo mas gostaria realmente de entender melhor o assunto, até para não cair em certas armadilhas. Um dos "itens" que me deixam intrigado são os agroglifos.

    Já que o senhor os considera estúpidos, poderia nos informar (considerando que tem acesso a canais de conhecimento que a maioria de nós, mortais comuns, não sabe facilmente chegar) como são feitos, de que forma os charlatões os produzem? Assim o senhor poria um final definitivo nesse falácia toda. Obrigado pela atenção.

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