Atendendo meu pedido, e sabia que o faria,
o historiador Joaquim Fernandes, amigo de muitos anos, manifestou-se em menos
de 24 h. após a publicação do post sobre
Fátima. Reitero minha gratidão pela sua intervenção, enriquecendo a matéria.
Fernandes é reconhecidamente um dos mais conceituados estudiosos sobre a
"problemática fatimista e similares", com teses e obras e
participações na mídia, referências em todo o mundo. É evidente que o
blog jamais poderia esgotar a questão pela sua grandeza e complexidade, e ainda
que ele avalize a análise, acrescenta que há outras dimensões a serem
consideradas. Sem dúvida que há. Sua nota está na íntegra, com a
perspectiva de novo aporte em breve.
Um dos aspetos ainda por
dissecar foi o “aviso/recado” que o Papa Francisco deixou na Cova da Iria. A
leitura das suas duas intervenções deixa margem para profundas avaliações que
deixarão marcas na leitura convencional do fenómeno que é “Fátima 1917 e o
seu complexo estrutural”, como a designo.
O Sumo Pontífice não perderia a oportunidade de conclamar os fiéis à reflexão, não só naquela data em especial, mas nas celebrações anuais, ainda mais diante de um cenário global turbulento e da mais absoluta incerteza e insegurança como esse que vivemos. O "complexo estrutural" referido por Fernandes para o evento Fátima é o mesmo - não posso deixar de dizê-lo - da ufotopia, e, em ambos os casos, há que se ter o devido "aparato crítico" multi e transdisciplinar, como citado mais abaixo, se se quiser compreender o objeto em toda sua extensão.
Por aqui andam exaltados os leitores
integralistas das “aparições” de Virgem Maria (entre aspas, como as grafa o
grande especialista da matéria, o teólogo jesuíta René Laurentin), aceitando
mal a distinção alternativa de “visões” que alguns 'opinion makers' da
“intelligentzia” católica vão fazendo nos media, com acabrunhadas e confusas
reações dos teóricos ortodoxos, “mais fatimistas que Fátima”.
Imagina-se que, de fato, as controvérsias
não sejam poucas, dada a impalpabilidade da gênese do fenômeno. O teólogo
francês Laurentin, prestes a completar um século de vida, pede que a Igreja
tenha sempre muita cautela e discernimento na qualificação dos fatos, para não
ser vítima de enganos ou os dos riscos do iluminismo. Segundo ele, "O Papa
Pio X, na Encíclica, disse que a autoridade do Magistério nunca poderá ter
certeza de uma aparição, mesmo quando a reconhece."¹ Só a aparição de
Fátima é aceita oficialmente pelo Vaticano.
Aliás, nada que desde o ano 2000 o cardeal
Josef Ratzinger, o Papa Emérito Bento XVI não tivesse já teorizado com
profundidade e aparato crítico, de natureza antropológica, sociológica e
teológica. Os próximos tempos poderão ser prometedores e exaltantes no que
toca a novas etapas da controvérsia que já está lançada.
As discussões talvez um dia se substituam
pelas reflexões com "aparato crítico de natureza sociológica,
antropológica e teológica", mas nada moverá a devoção dos fiéis nem sua
certeza na operação dos 'milagres' e na realização das predições. São essas
dimensões que estão à espera de serem compreendidas. Deixemos como está. As
teias da fé religiosa são pegajosas, elas enredam, imobilizam, entorpecem e
asfixiam. Mesmo que Fátima nunca tenha existido, agora existe. No ano do seu centenário, informa-nos Joaquim o seguinte evento:
20-21/out/17 - Congresso REVISÕES DE FÁTIMA (grafismo original), promovido
pelo CTEC - Centro Transdisciplinar de Estudos da Consciência, da Universidade
Fernando Pessoa, Porto. Um amplo painel multidisciplinar com diversas autoridades.
Além disso, acaba de estrear no History Channel (ainda
indisponível no Brasil) o documentário "As Faces de Fátima",
tendo como âncora o próprio Joaquim Fernandes e mais de 20 convidados,
especialistas, acadêmicos e teólogos de diversas correntes, para debater e
oferecer o que de melhor se pode conhecer sobre o fenômeno.
___________
¹ Le Pope Pio X a précisé dand l"Encyclique que l'autorité du
Magistére n'a jamais de certitude sur une apparition, même lorsqu'elle la
reconnaît. (tradução livre) em "L'appel du
Ciel": http://www.appel-du-ciel.org/?page_id=20
Tempo de desmistificações... muito bom.
ResponderExcluirCaem os "milagreiros" religiosos e os políticos também.
ResponderExcluirSem rodeios, um fenômeno análogo ao apocalipse mítico está a nos esfregar a verdade no nariz! Abraço, sr. Reis.
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