Não tem erro, é
só o assunto 'disco voador' entrar na conversa que lá vem a pergunta: Afinal, o
que aconteceu lá? "Lá" é Varginha, palco onde em Janeiro de 1996 ocorreu o
caso de maior notoriedade nacional, com repercussão em todo o mundo. A primeira
coisa que faço questão de dizer é "Ainda bem que foi em Varginha, fosse em
outra cidade e o estrago seria irreparável." Após a surpresa inicial, explico o comentário e dou a minha visão do fato. A minha visão.
Felizmente foi Varginha. Por quê? Porque o caso foi parar nas mãos do experiente pesquisador
Dr. Ubirajara Rodrigues. Apesar de a sua vida pessoal e profissional ter sido
turbilhonada pela avalanche midiática que amplificou o fato, ele saiu
ileso graças à postura reta, serena e imparcial, impondo respeito pela
competência investigativa. Ninguém melhor do que ele para falar com
autoridade sobre o ocorrido. A palavra final é dele, e qualquer outra informação que não tenha seu aval
será especulação barata, sandice, falsidade ou asneira mesmo, e essas
correm soltas por aí. Ele dá o caso por inconclusivo, expondo todas as razões no seu livro¹. Isso, no entanto, não impede de dar meu parecer e do qual meu caro amigo tem pleno conhecimento, ainda que não concorde inteiramente com ele.
Não foram
poucas as ocasiões em que 'Varginha' foi centro das nossas conversas, não foram
poucas as vezes em que me detive na releitura de sua obra nos pontos centrais,
estudando e refletindo cuidadosamente através de uma análise que se magnificou além das circunstâncias fáticas, o que permitiu formar um juízo bastante
lúcido. Afinal, o que aconteceu em Varginha?
Não aconteceu
nadada. Nada de ET, disco voador, resgate de corpos, autópsias, filmagens secretas, conspiração de silêncio, nada. O paroxismo do delírio chegou ao ponto de se alegar que um soldado do exército teria morrido em "circunstâncias misteriosas após contato com o corpo do alienígena"! Noticiou-se também que um famoso médico legista teria realizado a necrópsia no referido alien. Quanta bobagem, é o estado da arte da ignorância. É inadmissível a falta de inteligência e a desfaçatez das autoridades em nos fazer acreditar que resgataram e examinaram cadáveres de seres alienígenas! Por quem nos tomam, por idiotas? A mim, não.
É uma conduta incompatível com a liturgia de suas funções institucionais. Em nome da segurança nacional? Marte ataca? Ensaio geral para a Guerra dos Mundos? Perderam a noção do ridículo, senhores? É a ficção assumindo o lugar da realidade. Enquanto eles sonham mirando as nuvens do imaginário, eu olho para o chão por onde devo caminhar. Recomendo enfaticamente se instruírem mais sobre o assunto, com profundidade, para que não cometam e não nos envergonhem com mais esse vexame novamente.
É uma conduta incompatível com a liturgia de suas funções institucionais. Em nome da segurança nacional? Marte ataca? Ensaio geral para a Guerra dos Mundos? Perderam a noção do ridículo, senhores? É a ficção assumindo o lugar da realidade. Enquanto eles sonham mirando as nuvens do imaginário, eu olho para o chão por onde devo caminhar. Recomendo enfaticamente se instruírem mais sobre o assunto, com profundidade, para que não cometam e não nos envergonhem com mais esse vexame novamente.
O que houve mesmo foi um pandemônio desnecessário. O estopim do
estardalhaço foi aceso pela forma intempestiva, leviana e imprudente com que a
notícia foi deflagrada e se espalhou fora do controle, à revelia do amigo. O
caos se instalou rapidamente na cidade, a imprensa mundial desembarcou em
questão de horas e não se falou em outra coisa durante meses. O Exército foi
acionado e homens circularam pela região em seus pesados caminhões em todo
tipo de ação, criando um ambiente ao feitio dos melhores roteiros de ficção científica sobre invasão
alienígena, lembrando certas cenas de "ET", de
Spielberg. Só faltou o ator principal.
Minha avaliação,
respeitada incondicionalmente a posição do Dr. Ubirajara, é que tudo não passou
de uma interpretação precipitada das meninas que viveram o fato. Uma vez que os rumores correram céleres sob os holofotes implacáveis da imprensa, reconhecer o
erro àquela altura geraria uma situação absolutamente constrangedora,
embaraçosa. Era evidente que as garotas jamais iriam se desmentir porque a comoção havia se impregnado na população. Como se costuma dizer no interior, a guisa de troça, "já
que está que fique". Não há como não notar semelhanças com o evento de
Fátima, comentado recentemente: Um fato mal explicado desproporcional à sua real medida, narrativas que não podiam ser desfeitas, interferência externa, envolvimento social, etc. Não são coincidências, são contingências que vão além das dimensões originais, muito mais comuns do que se pensa.
O "caso
Varginha" é o exemplo clássico da imperícia no trato de uma situação
delicada, e, sobretudo, de irresponsabilidade, por envolver autoridades,
instituições, mídia, setores da sociedade e terceiros num cenário que, ao
ignorar as regras do bom senso, do senso crítico, da ética e da seriedade, bateu às portas do histrionismo.
Ainda bem que foi em Varginha, onde a sobriedade, a decência e o caráter de um
pesquisador foram o anteparo que evitou uma catástrofe maior. Um pouco de juízo
e tudo teria sido evitado, e eu não precisaria escrever essa crônica de uma
patuscada anunciada.
_________
¹ O Caso
Varginha, 2001. (esgotado,
disponível em alguns poucos sebos),
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