Semana passada,
dia 24 de junho. este blog completou 70 publicações. Não pensei que chegaria
tão longe. No mesmo dia, a ufotopia comemorou 70 anos do que seus seguidores
chamam de "Dia mundial dos discos voadores". Já foi longe demais.
Juro que não programei nada, foi mera coincidência. A;iás, não sei o que os
alienmaníacos têm a comemorar. já que estão de mãos vazias até hoje. Ah, claro,
dirão eles que as provas são 'irrefutáveis', que governos sabem de tudo mas
escondem a verdade, que o Vaticano detém segredos irreveláveis, que Varginha é
é um caso incontestável e coisa e tal. Balelas, falácias, devaneios, delirium fremens (não errei, o
"f" é de frêmito). Falando em Varginha, aguarde, em breve tratarei do
assunto.
Eu ia deixar
passar essa data em branco, mas aceitei escrever a pedido do meu amigo Grego,
que também gosta de um barulho. A solicitação veio em cima da hora e
nem tive tempo de preparar um texto mais elaborado, embora basta dar uma olhada
nos posts anteriores ou nas obras que escrevi que está tudo lá, um punhado de
boas considerações, análises, reflexões, fundamentação científica de várias
disciplinas e autores e uma bibliografia de peso.
Dia mundial dos
discos voadores. Patético, coisa de mente obtusa, medrosa e despreparada para o
mundo. Lado a lado, ufólogos que patinam na ignorância e tropeçam no
desvario, e néscios viajantes das estrelas de quinta categoria, ambos herdeiros
da Nova Era, do
bestiário alucinatório, dos sonhos e esperanças que blindam pesadelos e
desesperanças. A distância entre fascinados e vacinados está no campo do
discurso, e ela não é pequena. O primeiro é monotemático, monocórdico,
unidirecional e periférico ao homem: Discos voadores existem, e são
tripulados por seres inteligentes provenientes de civilizações longevas e
avançadas, que nos visitam há milhares de anos com os mais diversos objetivos. Irracional, bizarro, ilógico,
ficcional, deprimente. Um monólogo rouco para si mesmos.
Já o outro discurso é poliédrico, pluridimensional e multivocal, que incomoda, provoca desconforto e acentua o sentimento de vazio porque atinge o âmago da existência humana: Para mascarar a angústia visceral do desamparo e solidão no cosmo - a mais vasta jamais imaginada, o homem cria fantasias, sonhos, ilusões e utopias contra uma realidade que desvela seus medos estruturais inescrutáveis, sua indigência e insignificância na infinitude do universo. Não há contraditório possível! A diferença de conteúdo é colossal!
É para isso que
existem as crenças, para atender a demanda de conveniências e carências:
de faunos a anjos, de astrólogos e cartomantes a espíritos e vida após a morte,
de amuletos e crendices a deuses astronautas e gurus pironautas*. O
mercado é livre mas cada cenoura tem seu preço. Para o sujeito errante
qualquer caminho é rota de fuga. A covardia é explícita, a
insegurança e a imaturidade, escancaradas, porque a realidade lhe é
insuportável tanto quanto a ideia da morte. Assim, iludidos, charlatães,
flibusteiros e velhacos se unem ao rebanho, que vagueia pelas terras
imaginárias de Magonia a festejar o 24 de junho, decretando a sua própria
estupidez.
*Pironauta - neologismo, navegador da piração.
Que belo espancamento retórico, sr. Reis! Confesso imaginar que o "game" neste mundo só é viável se houver dois jogadores principais, em todos os setores: o charlatão e o iludido... Abraço.
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