Obras

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sexta-feira, 7 de fevereiro de 2020

A DESCONSTRUÇÃO DO SER

Como sempre, recebo com muito carinho as manifestações dos leitores, sejam críticas, divergências ou contestações. O post Sinapses digitais trouxe umas dessas mensagens, no caso, apenas uma opinião que vale a pena comentar. O texto foi desmembrado para melhor responder.


Tudo é questão de opinião. Emburreceram a humanidade o rádio, a televisão e os gibis? Cada novidade traz sua carga de dúvidas e temores e a bola da vez é a Internet. É que certo que tudo tem seu lado negativo; prefiro me concentrar no lado construtivo das coisas.

Não se trata de opinião, meu caro leitor. O texto tem base científica, estudos, literatura, levantamentos e observações extraídas da prospecção de dados e troca de informações. Não é o rádio, a televisão, os gibis ou a bola da vez, a internet, os culpados pelo emburrecimento, mas o que se faz com eles (ou não se faz). A internet é só um meio. Um objeto não é nada em si mesmo, seu uso  é que o torna construtivo ou destrutivo. Não é uma questão só de inteligência usar a ferramenta certa para o propósito certo, mas também de  formação e informação. Eu também gosto de olhar o lado positivo das coisas, porém sem ignorar os aspectos negativos, e infelizmente são esses que estão prevalecendo no cotidiano das pessoas. Um livro aberto ensina, fechado emburrece. Não se pode só adoçar a vida quando ela tem sabor amargo. É passar os olhos pelo mundo real para entender o que estou dizendo. O mundo real é bem maior e mais duro que o mundo que queremos ver.

O sonho do intelectual é que todos fôssemos brilhantes, talentosos e geniais. 

Creio que o leitor se equivocou novamente. Se todos fossem brilhantes, talentosos e geniais, ninguém seria brilhante, talentoso e genial, seriam todos iguais, porque não haveria termo de comparação. Uma questão de lógica. Se todos falassem mentiras, não haveria mentiras. Se o intelectual sonha como diz o leitor, o intelectual deixaria de sê-lo pois todos seriam como ele.

Resta ver se o mundo se sustentaria com uma população de PhDs enormemente ilustrados e com as mesmas ideias e ideais; para complicar, não mencionarei a possível existência de vocações misteriosas, destino, programação e algo do "outro lado", pois seria pressupor a existência de um criador, e reencarnação, evolução, etc.

Não, o mundo não se sustentaria se fosse governados por Ph.F.s ilustrados, posto que não foram talhados para essa função, mas apenas para pensá-la. A governança deve ser feita por administradores, técnicos, gestores de ofício, e mesmo estes, hoje, mostram-se despreparados, incompetentes, desprovidos de capital intelectual e desalinhados com a realidade, talvez por nunca terem aberto um livro. A arte de governar, para Machavelli, exige que o 'príncipe' tenha virtudes para liderar, planejar, organizar, negociar e decidir para o bem da coletividade, do Estado. É grande a distância entre agir e como agir, e aquele que ignora a dinâmica do mundo é o que está mais próximo da ruína. Quanto a 'vocações misteriosas', elas existem e são alvo constante dos meus embates, portanto, nem preciso comentar.

Fazemos parte de um sistema muito além da nossa compreensão e controle; nele, cada macaco parece ocupar um galho determinado.

“Sistema muito além da nossa compreensão e controleGalho determinadoO leitor está falando de destino e determinismo, portanto, de crença pessoal, uma opinião sem qualquer fundamento empírico. Com perdão pela franqueza, é antes de tudo uma postura infantil, imatura. Insisto nesse ponto, cada um de nós  está no comando, cada um faz suas escolhas, não há nada nem ninguém além de nós controlando a vida. Quem assim pensa obviamente o faz como fuga da realidade; é confortável e conveniente - e covarde - transferir a “alguém” ou “algo” a responsabilidade pelos atos humanos.

Freud advertia que a maioria das pessoas não quer de fato a liberdade por medo e insegurança, porque ela, a liberdade, exige responsabilidade. Gasta-se menos energia esquivando-se dela do que assumindo-a. O fardo é pesado demais para os fracos. O custo  é alto demais para os miseráveis. Só está apto a pensar e agir responsavelmente quem não é medíocre. Sobra pouca gente. Conhecer e aprender é escolha sua. Emburrecer também. Se esse é o espírito desses tempos estranhos, e tudo indica que sim, então realmente estamos testemunhando a desconstrução do ser. E  fim do humanismo. Volto ao assunto em breve.

Um comentário:

  1. Olá seu Reis! É sempre bom dialogar com o senhor.

    É claro que eu NÃO esperava por essa "surra", rsss.

    Respeito muito seu posicionamento e franqueza.

    Abraço.

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